Investiram contra os nossos artistas e pensadores, mutilando textos, calando canções, destruindo obras de arte, impondo a adesão cega ao senso comum, e justamente quem, por dever de ofício, deveria estar ao lado da rebeldia, do inconformismo, da resistência, mais que aderir, compactuou.
Imagem: Internet |
Cabe-me,
por cavalheirismo, dar-lhe os parabéns, afinal hoje é o seu
aniversário, mas confesso não ver motivos para comemorações
maiores.
Nossas
vidas sempre estiveram ligadas, crescemos juntos, ficamos adultos
juntos e agora envelhecemos juntos.
Sempre
próximos, confesso que tivemos momentos de flertes, ou de azaração,
como os meninos de agora dizem, e até trocamos uns beijinhos, mas
não passou disso.
Como
eu poderia manter um namoro firme, noivar e até casar com uma mulher
volúvel, afeita à afetação, sedenta de dinheiro, não envidando
esforços para chegar ao ambicionado, ainda que para isso tivesse que
se valer de todos os meios, onde não se exclui a prostituição?
Ainda
menina seu caráter se pôs a descoberto, quando os nossos amiguinhos
foram maltratados, presos, torturados, muitos deles mortos ou tendo
que fugir para longe da família, e a senhora, mais que silenciar,
optou por ficar ao lado dos responsáveis pela desgraça imposta,
fazendo a apologia dos fabricantes de gritos nas masmorras, de
cadáveres adolescentes, de fugitivos.
Por
essa época nosso bairro foi invadido, com a sua aquiescência, e
tivemos as casas roubadas: safras, minérios, rebanhos, em troca de
quinquilharias importadas de outros bairros, e a senhora ao lado dos
invasores, mais que permitindo a pirataria e o saque, justificando-o,
incentivando-o.
Investiram
contra os nossos artistas e pensadores, mutilando textos, calando
canções, destruindo obras de arte, impondo a adesão cega ao senso
comum, e justamente quem, por dever de ofício, deveria estar ao lado
da rebeldia, do inconformismo, da resistência, mais que aderir,
compactuou.
Cansados
dos chicotes e dos verdugos, mal acomodados nas contenções do só
trabalhar e ouvir, reagimos, buscando liberdade, esse bem inalienável
e obrigatório, e a senhora não envidou esforços para nos impedir,
em vã tentativa de perpetuar os grilhões, a submissão ao arbítrio
e à prepotência.
Vencemos
e a contragosto a senhora fingiu ter mudado de lado, criado juízo,
juntando-se a nós, mero disfarce, dissimulação, para continuar na
sanha de oposicionista trabalhando a aniquilação do que lhe
contraria, criando e destruindo políticos, difamando uns e coroando
outros, fazendo reputações e destruindo reputações, sempre na
consecução dos próprios interesses, que nunca foram os nossos.
Agora,
assim como crescemos juntos, juntos caminhamos para a morte.
Eu,
por natural desgaste biológico, com prazo de vencimento próximo,
uma fatalidade comum a todo ser vivente, e a senhora por um suicídio
intermitente e continuado, por ter se recusado à vida, em cada
momento da vida, e até nesse momento de reflexão e balanço, de
arrependimentos e mea culpas, a senhora persiste na contramão de uma
história que não a dignifica, posicionada contra nós, trabalhando
golpes, dando voz aos que querem o retorno do antes, no caminho
antinatural da involução.
Dizem
que os velhinhos voltam à infância e a observação da realidade
não nos autoriza a desmentir.
Seria por isso a sua saudade de quando imperava soberana e intocável, ditando o que fazermos e como fazermos?
Os
tempos são outros, senhora, outras duas gerações chegaram, e nossa
capacidade de influir diminuiu, já não nos seguem nem nos ouvem com
a mesma atenção, motivados por interesses outros.
Quando
é que a senhora se dará conta disso, única maneira de não
assistir à própria decrepitude, à falência múltipla dos órgãos,
endividada e abandonada, com cada vez menos amigos na claque que a
aplaude e dá crédito?
Quando
aprenderá a não mentir, omitir, deturpar, inventar... Acreditando
que está na essência do humano a ingenuidade e a ignorância?
Despeço-me,
antes pedindo-lhe desculpas por ter digitado o termo prostituta, mas
não tive como evitá-lo já que toda a sua vida foi apoiada nos
cofres públicos, através de campanhas institucionais remuneradas,
empréstimos consignados a campanhas institucionais, empréstimos,
subvencionados, em bancos públicos... Valendo-se do seu poder para o
tráfico de influências, a intimidação, a chantagem política e
econômica, a concorrência desleal, a fraude... Todos os
instrumentos que caracterizam a prostituição política, econômica
e social, comprando autoridades, fossem civis ou militares, togadas
ou não, beneficiárias de mandatos ou não, cooptando para
controlar, fazendo-os servis servidores dos seus interesses.
Como
afirmei, houve momentos em que nos confundimos, flertando, namorando,
trocando beijinhos e amassos, em Copas do Mundo, Olimpíadas,
inesquecíveis novelas e musicais, debates políticos, velórios...
O
que faz com que eu lastime que assim tenha sido, mas não me
desobriga de criticá-la em seu aniversário, como fazem hoje milhões
de iguais a mim, lastimando a vulgaridade de uma bela mulher que
ambicionamos esposa, mas que se quis amante ocasional porque
perigosa, indigna de crédito, volúvel e vulgar, vendendo-se a quem
lhe acenasse uma moeda, ainda que de pouco valor, abrindo mão da
honra, da dignidade, do respeito.
Feliz
aniversário, Tevê Globo.
Francisco
Costa
Rio, 26/04/2015.
Rio, 26/04/2015.
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