Quando
cheguei a uma certa idade comecei a fazer uma retrospectiva
histórica, filosófica e sociológica do Brasil e do mundo, mais
detidamente durante as décadas que vivi.
Óbvio,
para mim, pelo menos, que principalmente a partir do fim da 2°
guerra mundial, com a disputa pela hegemonia no poder por Estados
Unidos e União Soviética, o mundo começou a mudar e se tornar no
que é hoje.
Os
Estados Unidos ao urgirem se impor ao bloco soviético, foram às
últimas consequências para demonstrar que o sonho americano, o
american way of life, o país livre, eram muito superiores ao que o
comunismo pregava.
E
realmente eram. Pelo menos do jeito que as coisas estavam
acontecendo.
A
publicidade extrapolou todos os limites ao explicitar ao bloco
ocidental que se as pessoas não consumissem sem parar, não
contribuiriam para a manutenção do sistema.
A
exploração de recursos naturais se impôs, uma vez que havia a
necessidade de suprir a indústria de matéria-prima.
A
proliferação de produtos eletro-eletrônicos exigiu a construção
de mais e mais usinas, sejam elas hidrelétricas, que destroem o meio
ambiente ao redor, sejam elas termoelétricas, que poluem a
atmosfera, ou nucleares que podem causar grande contaminação, como
Chernobyl ou Fukushima.
A
obsolescência programada pelas empresas fez com que as pessoas
trocassem seus produtos por outros assim que modelos novos fossem
sendo lançados ou assim que os ''antigos'' com mais de um ano de
fabricação começassem a quebrar sem que o conserto fosse a opção
mais econômica.
A
Educação deixou de priorizar a produção de conhecimento, a
pesquisa científica e o pensamento intelectual. Criou-se um funil
destinado a selecionar somente aqueles que fossem capazes de serem
úteis à manutenção do sistema. Aqueles que jamais perderiam seu
tempo em reflexões acerca das conjunturas humanas, sociológicas,
econômicas, filosóficas ou históricas, mas sim, o canalizariam em
100% para o crescimento das empresas em que trabalham.
Afinal,
era prioritário que eles galgassem cargos mais altos nas empresas.
Aqueles
que não passavam no funil ou que nem mesmo a chance tiveram de
passar por ele, eram obrigados a viverem suas vidas também de forma
a alimentar o sistema, mas de outra forma. Seriam a mão de obra mais
pesada das empresas e galgariam postos sempre inferiores.
Outros
seriam excluídos totalmente por terem nascido em lares muito pobres
e desestruturados, não tendo a chance sequer de pensar em entrar
para o sistema. São os miseráveis hereditários do mundo, que nem
sabem por quê estão aqui. Muitos não veem outra opção para
sobreviver senão entrar para o crime, que pode lhes garantir, pelo
menos por algum tempo, a ilusão de como os do andar de cima vivem.
A
guerra fria acabou mas o american way of life prosseguiu em cavar o
mundo cada vez mais avidamente, afinal, para alimentar o sistema e
aumentar os lucros era imperativo extrair dele o máximo que se
pudesse.
Marx
previu tudo isso e mais, mas não vamos falar dele sob pena de que o
texto seja acusado de comunista, muito em voga nos dias de hoje,
certo?
Chegamos
aos dias de hoje em que 1% da população mundial detém 50% de toda
riqueza.
Como
riqueza não se cria, apenas se transfere (numa adaptação livre de Lavoisier), não há como melhorar a vida dos restantes 99% sem
melhorar a distribuição dessa riqueza. Mas esquece, isso não será
feito. Thomas Piketty falou sobre isso em seu livro ''O
capital no século 21 ''.
Então
o sistema criou uma casta de deuses que domina o mundo e uma multidão
de simples fieis. Alguns não serão fieis como se verá adiante.
Para
aumentar os lucros os deuses tudo podem.
Pausa
para uma estória verídica.
Na
década de 1970 a Ford americana lançou um automóvel chamado Ford
Pinto, alguém se lembra?
Pois
bem, o Ford Pinto tinha um erro de projeto. O tanque de combustível
fora colocado atrás, muito próximo ao para-choques, o que fazia com
que a cada colisão traseira, o tanque explodisse matando ou
mutilando seus ocupantes.
A
Ford foi processada por alguns familiares de vítimas.
Durante
o julgamento, apareceu um memorando interno dando conta de um cálculo
que a empresa fez.
Nesse
cálculo estimava-se que o custo para reparar o erro seria de 11
dólares por veículo.
A
Ford estimou que, caso um certo número de vítimas a processasse e
ganhasse, ainda assim seria mais barato manter o carro do mesmo
jeito.
Chegamos
a um ponto na História da humanidade em que a busca do lucro se
sobrepõe facilmente à vida.
Por décadas esse sistema se infiltrou no nosso DNA, de forma que contestá-lo se torna heresia nos dias de hoje.
Ao que tudo indica, vamos até o fim com ele, como o sapo que morrw ao ser cozido lentamente na panela, quando teve oportunidade de sair.
Sinto tristeza em ver que o mundo ocidental foi tomado por essa ideologia da qual não consegue escapar.
Tudo
isso que foi escrito se destina a tentar explicar os acontecimentos
de Mariana e de Paris.
Mariana
Em
Mariana, subdistrito de Bento Rodrigues, o que aconteceu foi uma
busca incessante por lucros em detrimento da segurança.
Burlas
em laudos técnicos, fraudes, corrupção de agentes vistores e de
governadores, tudo isso faz parte da rotina de uma grande empresa que
só se preocupa com lucros.
Nenhuma
barragem, obra de engenharia que deve ser bastante segura em seu
projeto, se rompe da noite para o dia sem dar sinais antes.
Os
sinais podem ter sido vários, desde fissuras no concreto até
estalos bem altos.
A
tragédia foi anunciada em nome de se obter maiores lucros pois a
interrupção de funcionamento para reparos e manutenção teria
custos.
Indo
para Paris
Em
2013 apareceu um grupo com pretensões a derrubar o regime de Bashar
al-Assad, presidente da Síria. Barack Obama rapidamente, informado
pela CIA, enxergou a possibilidade de ajudar o grupo na defenestração
de Bashar para pretensamente colaborar para a instauração de um
governo democrático no país que lhe possibilitasse usufruir do
petróleo ali existente.
Para
não dar na vista, Obama divulgou à mídia que iria combater o EI.
Pelo contrário, as armas que o grupo emprega são de fabricação
norte-americana.
O
grupo só se fez crescer.
Quem
se agregou ao grupo? Sim, os excluídos de vários países do mundo
que viram em sua adesão ao EI uma oportunidade de fazer alguma coisa
de suas vidas sem espaço no sistema em que vivem.
Vimos
ingleses, franceses a até americanos ingressarem voluntariamente no
EI.
A
Rússia decidiu intervir e vem abrindo baixas significativas no EI.
Obama não gostou.
Provavelmente
em pouco tempo a Rússia consiga acabar com o Estado Islâmico.
O
que aconteceu em Paris talvez seja um canto de cisne para o grupo.
Porém,
o que aprendemos das lições passadas nos últimos dias?
Nada.
O
mundo continuará a prosseguir na mesma trilha equivocada em que
está, a fraternidade universal não será alcançada, o Papa
Francisco poderá ser morto a qualquer momento, outros ''acidentes''
ambientais ocorrerão, novos grupos de excluídos e inconformados
surgirão e a humanidade está com seus dias, talvez décadas,
contadas.
Alguém
acha que sou muito pessimista, ou apenas realista?
Não
há a mínima possibilidade de mudança.
Os
deuses são como aquelas pessoas que tem carros blindados e que vivem
em condomínios cercados por segurança extrema.
Desde
que tenham sua própria segurança, que acabe o mundo ao seu redor.
Abre-se
mais uma champanhe.
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