quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O picolé autoritário

Por Fernando Castilho


Foto: IstoÉ




O que se passa na cabeça do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que após 16 anos cultivando a alcunha de ''picolé de chuchu'' pelo seu imobilismo, resolve mudar, adotando o estilo truculento?



Dos 20 anos de tucanato, Geraldo Alckmin ostenta, entre vice de Mário Covas e governador de São Paulo, incríveis 17 anos à frente do Executivo Estadual.

Nos tempos de Covas, Alckmin pouco se sobressaiu devido à personalidade forte do governador.

Após o falecimento de Covas, Alckmin assumiu o governo recebendo em pouco tempo a alcunha de ''picolé de chuchu'', uma vez que era figura apagada.

Essas figuras apagadas são interessantes. Se você não quer sofrer nenhuma crítica, não deseja se envolver em polêmicas, você simplesmente...não faz!

Geraldo Alckmin seguiu à risca essa cartilha até 2014. Os problemas do Estado de São Paulo pela inação do governo se avolumaram.

O Metrô estava estagnado há anos, o que acarretava estações e trens superlotados.

O escândalo do tremsalão, embora blindado pela mídia, era alvo de investigações inclusive na Suíça.

A crise hídrica por omissão do governador que não criou novos reservatórios, apesar de ter se comprometido à isso durante a assinatura da outorga, estourou. Ao racionamento de água Alckmin deu outro nome eufemístico: restrição hídrica.

A Polícia Militar matava cada vez mais, demonstrando que não havia um plano de segurança pública.

A USP estava em greve devido ao sucateamento imposto pelo governo.

Os pedágios eram os mais caros do país contribuindo em muito para o encarecimento dos produtos e para a inflação nacional.

Nesse ano de 2014, quando se esperava que o povo paulista desejasse que a outrora locomotiva do Brasil que estava estacionada há tanto tento tempo, começasse a queimar carvão e a se movimentar, veio a decepção. Alckmin se reelegeu em primeiro turno, o que demonstrou claramente que a população queria mais do mesmo.

Começou o ano de 2015 e percebemos que Geraldo começou a se mover, enfim.

Mas seu movimento nunca foi no sentido de começar a arrumar a casa que ele bagunçou por tanto tempo.

O Metrô continua do mesmo jeito. Pior, contratos foram cancelados, talvez por medo das investigações do tremsalão que envolvem também seu nome.

A crise hídrica não arrefeceu, mas num non sense total, o governador ganhou prêmio de Gestão Hídrica oferecido pela Assembleia Legislativa dominada pelos cupinchas tucanos.

A PM agora, não só matava como também chacinava pessoas, como em Osasco. Além disso, começou a bater em professores da rede estadual que estavam em greve.

Então o governador resolveu inovar, coisa que nunca foi de seu estilo.

Determinou sigilo de contratos do Metrô e de dados da Polícia Militar.

Mentiu em relatório sobre o número de mortos pela PM.

Inventou uma tal de reorganização das escolas estaduais (outro eufemismo para fechamento). Com isso, 94 colégios estão sendo fechados, vários deles com ótimo aproveitamento.

Fica evidente que há um plano em mente.

Possivelmente a terceirização do ensino público. Não se descarta também que colégios particulares estejam interessados em abocanhar fatias, uma vez que para muitos estudantes a mudança será muito prejudicial.

Então, estudantes secundaristas resolveram resistir e protestar.

A Escola Estadual Fernão Dias Paes Leme de Pinheiros, São Paulo, a Escola Estadual Salvador Allende Gossens na zona leste da capital e a Valdomiro Silveira de Santo André, foram ocupadas pelos estudantes secundaristas.

Alckmin imediatamente enviou a PM para a Fernão Dias Paes ao invés de dialogar e iniciar negociações.

Manifestantes contra a reorganização protestavam nas imediações da escola quando foram reprimidos pela PM com gás de pimenta!

Como os alunos do Fernão Dias Paes decidiram em assembleia passar a noite na escola, Alckmin mandou cortar a água! Além de pedir reintegração na posse, que poderá gerar confronto com a PM.

Bem, muito já foi dito sobre a nova postura que o governador tomou neste ano.

Autoritário, truculento, sem disposição ao diálogo, Geraldo Alckmin é pré candidato à presidência da República em 2018, talvez pelo PSB já que Aécio Neves não deve lhe oferecer a legenda que quer para ele próprio.

Mas, se todo político que almeja cargo tão alto procura se apresentar como simpático e popular, Alckmin vai no sentido contrário.

Mas a julgar pela pesquisa Datafolha que mostrou que metade dos paulistas apoia a reorganização e fechamento de escolas, o governador pode estar na direção certa para concretizar o seu sonho.

Numa tentativa de explicar o que se passa na cabeça do governador é preciso lembrar que o Estado de São Paulo, e mais notadamente sua capital, tem demonstrado durante todo este ano uma aproximação com o fascismo.

Demonstrações de intolerância, violência e preconceito de classe estão tomando conta de corações e mentes de muita gente.

Alckmin parece estar indo na contra-mão do prefeito Fernando Haddad que ostenta alta rejeição justamente entre essas pessoas de classe média.

Pode ser por isso que Alckmin esteja mirando nessa direção.

Como faltam 3 anos ainda para 2018, Geraldo pode estar lançando um balão de ensaio até que uma pesquisa eleitoral saia às ruas com muito tempo ainda para mudança de rumos, caso esteja errado.

Se a popularidade estiver em alta, podemos esperar mais autoritarismo e truculência pela frente. Ele vai surfar nessa onda.

Caso contrário, esperemos uma nova Madre Tereza, cínica.





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