domingo, 31 de janeiro de 2016

Lula errou mesmo em ser conciliador?

Por Fernando Castilho
Charge por Pataxó http://pataxocartoons.blogspot.jp/





Imaginar um futuro alternativo àquele que já aconteceu é um exercício complexo e inútil, mas acho que dá para imaginar o que teriam sido os governos Lula sem a conciliação de classes proposta na Carta aos Brasileiros


O jornalista Luiz Carlos Azenha publicou artigo em seu site Viomundo onde afirma que o erro de Lula foi ter acreditado na conciliação de classes. Será?

A única forma de saber se a afirmação está correta é analisá-la do ponto de vista do materialismo histórico, ou seja, Marx.

Marx dizia que há duas classes, a saber, a burguesia e o proletariado.

A burguesia é a classe bem pouco numerosa que detém os meios de produção e o proletariado é a classe bem mais numerosa que detém a força de trabalho.

Enquanto a burguesia deseja o lucro e luta por ele, o proletariado deseja salário e também luta por ele. Daí a luta de classes, ok?

Mas Lula, ao publicar a famosa Carta aos Brasileiros no início de seu governo, celebrou um pacto com a burguesia, os grandes empresários do país que estavam com medo de sua eleição.

Com este pacto ficou claro que Lula evitaria a luta de classes e não permitiria a revolução prevista por Marx.

Ou seja, Lula passou a ser um amortecedor muito útil à burguesia. Neste sentido, os governos Lula e mesmo o de Dilma, apesar de muitos avanços sociais, foram burgueses.

É a chamada conciliação de classes que permitiu a Lula, além de melhorar muito a vida dos pobres, criar condições para que os detentores dos meios de produção enriquecessem ainda mais.

Perfeito, não? Todo mundo ganhou.

Se não houvesse essa conciliação, será que 30 milhões de pessoas teriam saído da linha pobreza?

Será que haveria, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos e outros programas exitosos?

Mas então, se foi bom pra todo mundo, como explicar esta sanha em prender Lula usando para este fim até mesmo um ridículo barco de 4 mil reais adquirido com nota fiscal? Por que não o querem de volta, afinal?

Parece-me simples. Vou tentar explicar.

A oposição, que pela ótica de Marx não poderia ser chamada de burguesia pois não detém meios de produção, sendo entidade somente política, está toda na lista das operações Lava Jato, Zelotes e HSBC.

A mídia só noticia a Lava Jato pois lá estão alguns nomes do PT, além de empreiteiros, estes sim, burgueses.

Mas é na Zelotes e HSBC que estão os peixes grandes.

Dilma desde a campanha eleitoral avisava que não restaria pedra sobre pedra.

Esperava-se que ela interferisse na Polícia Federal e na Procuradoria Geral da República, mas, fiel às ideias que defende, manteve a autonomia dos órgãos.

Era urgente então derrubá-la, mas isto também se mostrou muito difícil pela sua imagem honesta reconhecida até por gente da oposição.

Lula então apareceu como possível candidato em 2018.

O PSDB, teoricamente o partido com mais chances de enfrentá-lo, olhou para seu próprio umbigo e não gostou do que viu: Aécio, que tem farto material contra si a ser utilizado durante a campanha; Serra, velho postulante a qualquer coisa e destacado representante dos interesses da Chevron americana com relação ao pré-sal; Alckmin que vem acumulando desastres em seu governo de São Paulo, como a gestão hídrica, a paralisação e os escândalos do Metrô, a matança de jovens da periferia e a truculência da PM contra simples estudantes que lutam contra o fechamento de suas escolas. Aparece agora também o crime hediondo, na minha opinião, de desvios de recursos das merendas escolares.

Ou seja, Lula nadaria de costas, venceria e seria sério candidato à reeleição em 2022. Brrrrrr!

Os tucanos querem voltar ao poder não só para jogar uma pá de cal sobre as operações da PF, mas também para revitalizar seus velhos esquemas que já sofrem jejum de 13 anos.

Mas então, por que a mídia está tão empenhada em prender Lula ou destruir sua reputação?

Ora, já expliquei antes neste blog.

A mídia, toda ela, está financeiramente acabada. Precisa de socorro.

Já há um acordão com o PSDB há muitos anos, desde o primeiro governo Lula, que prevê, em troca de içar a oposição de volta ao poder, receber generosa ajuda do BNDES.

Então, não considero erro de Lula acreditar numa conciliação de classes. Era o que tinha naquela época. Ou emergia como um ser da esquerda conciliador ou sua cabeça seria cortada rapidamente.

Agora, se a oposição e a mídia, para chegar ao poder apostam em seu projeto atual inconsequente de prender Lula sem que haja crime cometido por ele, esperando que todo mundo aceite sem problemas a injustiça, ignoram a possibilidade de convulsão social que pode levar o país a uma crise econômica, política e institucional profunda, terrivelmente ruim, não só para o povo, como também para eles.


5 comentários:

  1. Uma das melhores análises que li. Vai muito de encontro ao que analisei também. Só não cheguei a conclusão do que poderia ter acontecido sem as concessões de Lula. Mas como sempre, a história dirá!

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  2. Tive um debate interessante com uma funcionária do Estado, petista. Quero deixar claro que sou de esquerda, apoiador de Lula e de Dilma. Acontece que criamos um movimento de ex trabalhadores do Comperj e Angra III. Qual é a finalidade deste movimento? Mostrar ao governo que é necessário a continuidade dessas obras. O impacto social e o prejuízo que a Petrobras amargará, assim com o governo do Rio de Janeiro e os trabalhadores é bilhonário. Deliberamos por diversas ações, sendo uma delas a divulgação de uma petição pública. Essa petição foi criada na Avazz. Esta funcionária me disse que não assinaria, pois era a Avazz. Fiquei surpreso e perguntei porque não. Ela falou muita coisa, mas não me explicou direito. Aí eu insisti e ela ficou meio impaciente. Mandou que eu lesse um artigo do Nassif. Eu já havia lido. Abandonei a discussão e agradeci. Mas antes, pedi que me ajudasse a uma alternativa qualquer que contemplasse o PT. Ela não foi muito paciente e também não me ofereceu nenhuma alternativa. Eu disse a ela que sou de esquerda. Sou da esquerda dos guetos. Das favelas. Dos negros dos quilombos. Sou Lula. Sou Dilma. E que vou defende-los, mas antes, vou defender o pião! Tenho muitos amigos petistas. Vejam minha página. Somos juntos. Estamos juntos. Vou dizer mais uma coisa: Ela disse que nenhum petista iria assinar a petição, porque foi feita na Avazz. O que eu respondi: Sou acostumado a lutar dentro do campo do inimigo.

    Aos meus amigos petistas: Procurando entende-los e reafirmando que precisamos do seu apoio, peço que divulguem mais esta petição, que não é da AVazz:

    http://www.sosvox.org/pt/petition/retomada-imediata-das-obras-do-comperj-e-angra-iii.html?utm_source=petition&utm_medium=sharers&utm_campaign=retomada_imediata_das_obras_do_comperj_e_angra_iii

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  3. Respostas
    1. Se não enxerga nada melhor para contribuir com o debate. Recolha-se à sua arrogância.

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