quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Adivinhem quem vai ser manchete amanhã

Por Fernando Castilho





É o que o jornalista Joseph Pulitzer afirmou: Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.


Que países tidos como não democráticos possuam órgãos de imprensa que busquem noticiar somente aquilo que os detentores do poder desejam, todos sabem, não é novidade.

A mídia da Coreia do Norte é uma das mais rigorosamente controladas do mundo. Como resultado, a informação é rigidamente controlada tanto nas notícias internas, quanto nas externas.

Em Cuba as emissoras de televisão estão ligadas ao Instituto Cubano de Rádio e Televisão (ICRT), do Estado. O ICR é claro em sua política: os meios de comunicação devem ser um instrumento de orientação político-ideológico.

O Granma, jornal de maior tiragem do país, com mais de 700 mil exemplares diários, publicado pelo partido, umpre uma missão de salvaguarda dos ideais revolucionários.

No Brasil, durante a ditadura, todos os jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão sofreram censura rigorosa após o Ato Institucional N° 5, o AI-5. A maioria também colaborou com o regime, pricipalmente a Rede Globo e a Folha de São Paulo que inclusive fornecia veículos para o Dops.

Faz parte dos regimes não democráticos.

Todos sabemos que hoje vivemos em plena Democracia, por isso a mídia não sofre censura nem intimidação por parte do governo.

Pelo contrário, o que vemos diariamente são nossos jornais fazendo exatamente o inverso do que órgãos de imprensa costumam fazer em regimes autoritários. A defesa cega da oposição, enquanto atacam o governo.

Os parvos, aqueles que acreditam que vivemos em uma ditadura comunista do PT, logicamente discordam. Mas sobre essa falta de neurônios não vale nem a pena comentar.

Foi recentemente publicada uma pequena nota nos jornais dando conta da citação do governo FHC como tendo recebido o aporte de 100 milhões de dólares que em dias de hoje equivaleriam a cerca de um bilhão de reais.

Ao mesmo tempo, a segunda manchete principal (a primeira noticiava o falecimento do músico inglês David Bowie) mostrava uma vaga delação ao ex-presidente Lula, que não faz parte do governo, mas sim do partido que governa, o PT e que poderá vir a ser candidato em 2018.

A delação que envolveu Aécio Neves também foi discreta e os jornais já se esqueceram.

Não há um dia sequer em que a presidenta Dilma, Lula ou um expoente qualquer do governo ou do PT não seja capa dos jornais ou de seus portais.

A bola da vez agora tem sido o ministro Jaques Wagner. Ele andou dando entrevista e de certa forma ganhou um pouco de notoriedade. Foi preciso então cortar suas asinhas, antes que ele se sinta a vontade para voar e disputar o Planalto.

Os factoides aparecem sempre em manchetes, uma vez que pouca gente se dispõe a comprar jornal e ler o artigo completo. Depois os autores da ''notícia'' emitem uma notinha de rodapé em algum lugar dentro do jornal com um ''ERRAMOS''. Esta tem sido a estratégia preferida.

O intuito não poderia ser mais claro, insuflar o ódio contra um só partido para que as pessoas com opinião ''formada'' sejam usadas como massa de manobra na luta para que os que detiveram o poder por 500 anos voltem.

É o que o jornalista Joseph Pulitzer afirmou: Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.

Mas se no Brasil temos uma mídia tão desprovida de confiabilidade, não pensem que ela é a pior do mundo.

Não, nesse quesito a Argentina vem dando um baile até nos jornais da Coreia do Norte.
Rogério Macri, o presidente recém-eleito é comprometido em extinguir a Ley de Medios que a ex-presidenta Cristina Kirchner lutou para aprovar e que fazem as famílias donas da mídia brasileira perderem o sono.

Em virtude disso, os principais jornais como o Clarin fazem o inverso do que fazem os jornais do Brasil. Elogiam cada ato, cada detalhe, cada fio de cabelo de Macri, como se ele fora um ídolo pop juvenil. Só falta ter um poster dele em cada repartição das redações.

É quase o mesmo que as empreiteiras fazem no Brasil: financiam um candidato para cobrar obras mais tarde.

Minha amiga, Renata Gouveia Delduque se deu ao trabalho de coletar as manchetes do Clarin em um único dia que, a título de ilustração, exponho aqui:

A estratégia de comunicação de Macri: informar 18 horas por dia”: “Após doze anos de governo Kirchnerista, com a preferência pelas cadeias nacionais e aversão aos jornalistas, a estratégia da nova administração federal é “atuar e gerar notícias” todos os dias”.
Governo de Macri tenta retomar controle de agência reguladora de comunicações”
O primeiro desafio do novo governo será controlar as manifestações de rua”
Macri mandou fazer oito auditorias para avaliar como Cristina deixou o governo”
Chega ao fim herança kirchnerista de restringir importação de livros”
Receita do setor agrícola argentino cresce 100% após medidas do governo”
Esperamos uma colheita de 120 milhões de toneladas”
Ministros brasileiros elogiam fim do controle cambial e dos bloqueios ao comércio na Argentina”
Primeiros anúncios econômicos de Macri interessam diretamente ao Brasil”
E A CEREJA DO BOLO:
Pesquisa indica que a maioria dos argentinos acha que 2016 será melhor que 2015”

Ou seja, ao contrário do pessimismo brasileiro, a Argentina é otimista para 2016.

Essas manchetes me lembram aquela narradora de notícias da televisão norte-coreana que não se limita a narrar, mas o faz com uma retórica ufanista e emocionada.

Mas se a mídia argentina conseguiu ser pior do que a brasileira, não tenham dúvidas que se Aécio Neves tivesse sido eleito em 2014, o ano de 2015 seria considerado o mais exitoso em 12 anos. Não haveria crise econômica, Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg mostrariam dados diários de um Brasil que enfim se recuperou e atravessa um período de pujança em todos os setores.

Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do Reich na Alemanha Nazista afirmava que uma mentira contada mil vezes virava verdade.

É o que as mídias argentina e brasileira fazem diariamente, apenas com os sentidos ideológicos invertidos.

A quem tenta adivinhar quem vai ser manchete nos jornais de amanhã, não esperem que seja esta:

Cerveró não confirma propina a Lula em delação oficial!

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