quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Moro, Dirceu e a extorsão do lobista

Por Fernando Castilho




Não se deram ao trabalho de ler em outras fontes, não se deram ao trabalho de questionar incongruências e contradições sérias, e pior, desconhecem o que diz nossa Constituição cidadã, carta magna do Estado de Direito, conquistado a duras penas.


Já escrevi algumas vezes sobre o saco de pancadas chamado Zé Dirceu.

Não, ele não é um santo como alguns pretendem. E sei do que estou falando.

E sei também que muitos dos que lerão este texto destilarão seu ódio porque não acompanharam com rigor os desdobramentos de tudo que envolveu o ex-ministro desde o Mensalão até agora. Por preguiça ou desinteresse.

Não se deram ao trabalho de ler em outras fontes, não se deram ao trabalho de questionar incongruências e contradições sérias, e pior, desconhecem o que diz nossa Constituição cidadã, carta magna do Estado de Direito, conquistado a duras penas.

Afinal, queriam um medalhão do governo preso, um ineditismo a lavar a alma de um povo habituado à impunidade desde sempre. Podia ser qualquer um, desde que fosse político.

O ex-ministro foi condenado com base na Teoria do Domínio do Fato, uma excrescência criada na Alemanha após a queda de Hitler para responsabilizar os criminosos de guerra e que não vinha mais sendo usada desde então.

Serviu, porém, como o artifício conveniente, um achado de Joaquim Barbosa, fora da Constituição e que pressupõe que se Dirceu era o chefe de gabinete, ele tinha por obrigação saber de toda e qualquer falcatrua que tenha acontecido em todo o governo federal.

É como se um diretor de uma empresa tivesse pleno domínio de tudo o que seus subalternos fazem ou conversam, mesmo fora do expediente. E uma empresa não tem nem de longe o mesmo número de funcionários de um governo federal.

Zé Dirceu, quer aceitem ou não aqueles que o odeiam, foi condenado sem provas. Isto é fato pois a ministra Rosa Weber admitiu que não havia provas contra ele mas que mesmo assim o condenaria porque a literatura jurídica assim lhe permitia.

Ponto.

Mas Dirceu foi preso novamente por ter sido citado em delação premiada pelo lobista Fernando Moura em agosto de 2015.

Enquanto vemos o presidente da Câmara, Eduardo Cunha escarnecendo devido à sua impunidade, apesar das inúmeras provas já colhidas contra ele, sem que a imprensa peça sua cabeça diariamente, Dirceu foi preso imediatamente à delação, de maneira irregular pois seria preciso que antes o delator apresentasse provas do que afirmou.

Mas para o juiz Sérgio Moro, que inclusive, desprezando a ética do Judiciário, já foi premiado pela Globo, Dirceu era um troféu a ser conquistado.

Os colunistas dos órgãos de imprensa comemoraram sua prisão, se não com fogos, com textos exaltando a coragem e determinação de Moro.

Aliás, sobre esses colunistas, cabe abrir um parênteses. Hoje eles se parecem mais com soldados num front de guerra contra a internet, na necessidade diária de combater não só o petismo, mas também toda a esquerda para agradar seus patrões e tentar evitar dessa forma uma possível demissão em virtude de cortes que estão ocorrendo amiúde devido a problemas financeiros de seus empregadores que só podem ser mitigados com a volta dos tucanos ao poder, via BNDES.

É por isso que a Folha contrata um Kim Kataguiri da vida, certamente com salário bem inferior aos dos outros colunistas e muito provavelmente como pessoa jurídica para escapar de encargos.

A classe média e alta, além de muitos que expressam seu ódio nos comentários publicados nos jornais, também comemoraram a prisão de Dirceu. A eles, assim como aos colunistas, não interessa se a Constituição está sendo aviltada. Não vem ao caso, como diria Moro.

Mas o lobista em novo depoimento isentou Zé Dirceu de culpa.

E agora, o que fazer? Meu troféu escapa de minhas mãos, pensou o juiz Moro.

Quando perguntaram a Fernando Moura se ele estaria mudando sua versão dos fatos, ele disse estranhar que tenha afirmado o que lhe disseram que afirmou antes.

Zé Dirceu então pediu a gravação do primeiro depoimento. Estranhamente o MPF alegou que o depoimento não fora gravado.

Como assim, se todos os depoimentos são meticulosamente gravados pelo juiz Moro? Aliás, este é um estilo bastante pessoal dele.

Agora Moro ameaça Fernando Moura de anulação de sua delação premiada pelo motivo de que teria alterado seu depoimento.

Na realidade o que Moro pretende é extorquir a delação do lobista e manter seu troféu, Dirceu, preso, sob o risco de desmoralização de toda a operação.

Possivelmente teremos uma mentira valendo como prova contra Dirceu.

E mais uma vez ele será condenado injustamente.

E os mesmos de sempre novamente comemorarão.





2 comentários:

  1. Lava Jato é uma Torre de Babel, o conjunto da obra não fala as línguas do direito, da justiça, da imparcialidade, da moralidade, da ética, e estas são as ligas de uma boa construção de sociedade, ao seu construtor não importa nada disso, mas ele vai em frente, por que sabe que se entregar a obra todos os erros ficarão à mostra, cada vez que entrega uma parte fica claro os abusos e erros cometidos durante a construção, às instancias superiores podem ou não aprovarem, atendendo ou não a interesses tão escusos quanto os dos malfeitores, quase todos os componentes que ativamente participaram dos crimes cometidos estão sendo beneficiados pela leniência e por acordos, àqueles contra os quais não há prova material, mas que foram citados e negam qualquer participação, serão condenados a longas penas, por que a literatura permite, absurdamente lhes permite, e com isto permite o fim do Estado de Direito, pois esta afirmação é própria dos ditadores e das Guantanamos que se proliferam nos dias atuais. A guerra de setores da inteligência do Estado que foi aberta logo após “a volta do poder aos civis" é a desgraça que assola o país, diga-se, não há um só jornalista que desenvolva o tema, Por quê? Por que fazem parte da trama, se submetem ao jogo e se acham beneficiados por ele, recebem noticias, falsas ou verdadeiras, sem correm nenhum risco, no âmbito das correntes e centrais inteligências do estado não há uma única linha escrita por investigação jornalística nos últimos trinta anos, por medo e acomodação, é a mediocrização da imprensa e dos jornalistas, estas agencias estão travando uma guerra que não se sabe quem vai vencer, mas sabemos que quem perde é a sociedade, os agentes do estado que tem por obrigação manterem-se neutros na disputa política, não observam esta prática, os maniqueísmos primários destas agências que promovem a desestruturação política do país e que contam com os aparelhos da imprensa, não percebem o mal que fazem ou sabidamente o fazem por má fé. Voltando a vaca fria, a Lava Jato, não termina antes das eleições 2018, e o dia que terminar, começa o fim do Moro.

    ResponderExcluir
  2. Mas, Moro é o novo nome de Deus? Se não há delação que o incrimine, caso seja anulada, como manter José Dirceu preso?? Cadê o advogado do Dirceu que não bota a boca no trombone contra esta bárbara arbitrariedade do Deus Moro? Tudo muito estranho.

    ResponderExcluir