quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Dilma, Lula, o republicanismo e a ética

Por Fernando Castilho



Uma reflexão sobre se Dilma, Cardozo e até mesmo Lula estariam sendo alvos daqueles que se aproveitam, de maneira aética (com licença do trocadilho) de seu discurso republicano.


Durante debates na campanha eleitoral de 2014, Dilma Rousseff usou mais de uma vez as frases ''não restará pedra sobre pedra'' e ''as investigações ocorrerão, doa a quem doer''.

Dilma é o que se pode chamar de republicana. Ela gosta disso.

Ao que consta até agora, desde sua vida ameaçada pelas torturas da ditadura, pode se dizer que ela é também muito ética, convenhamos.

Por tudo isso, Dilma vem mantendo José Eduardo Cardozo à frente do Ministério da Justiça.

Cardozo é o responsável pela coordenação da Polícia Federal.

Em seu republicanismo, Cardozo defende que a Operação Lava Jato esteja sendo bem conduzida pelo juiz Moro. Embora não esteja.

Nos tempos de FHC a Procuradoria Geral da União era comandada por Geral Brindeiro.
Brindeiro ficou conhecido pela alcunha de engavetador geral da União. Todas as denúncias comprovadas, suspeitas de ilícitos ou ilações eram solenemente arquivadas por ele sem que fosse cobrado de explicações.

Naquela época a Polícia Federal vivia um período difícil em faltavam equipamentos, veículos e respaldo às suas ações. Hoje ocorre o contrário.

Não se pode dizer então que FHC fosse republicano. Nem ao menos ético, vamos aceitar.

Neste momento, em que as investigações da Lava Jato são direcionadas apenas a empreiteiras (com o fim específico de extorquir à força delações premiadas) e a políticos do PT ou de partidos aliados do governo, Cardozo e Dilma se mantém republicanos.

Neste momento, em que um despreparado juiz Moro interroga Zé Dirceu sem que, pelo que se depreende do depoimento de mais de duas horas, haja qualquer suporte à intenção de mantê-lo preso, Cardozo e Dilma se mantém republicanos.

Neste momento, em que a mídia e o juiz Moro lançam suas garras sobre Lula, o ministro e a presidenta se mantém calados.

Ora, há então que se fazer uma leitura sobre o que significa ser republicano e ético.

Admitiria a postura elevada de Cardozo e Dilma se a Lava Jato estivesse sendo guiada pelas normas puristas da isenção política. Fosse assim, após 3 delações sobre as propinas entregues a Aécio Neves, este já teria sido denunciado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.

Lula está sendo massacrado diariamente pela mídia por comparecer de vez em quando, após ter deixado a presidência em 2010, a um sítio de propriedade de dois amigos.

A ex-primeira dama, Marisa Letícia, comprou um barco de pesca para Lula no valor de 4 mil reais, com nota fiscal em seu nome.

Não se sabe bem se foi a construtora OAS ou a Odebrecht que executou reformas no sítio.

Sobre este fato, há indagações a serem feitas.

1) O custo das reformas constitui uma retribuição ao ex-presidente pela ''força'' que ele deu às empreiteiras durante sua gestão?

Alguém poderia responder: claro que sim, afinal o que elas ganharam nas falcatruas da Petrobras justificam a retribuição!

Não, sinto muito, mas o valor gasto é muito baixo pra ser isso...

2) O empenho das empreiteiras em reformar o sítio que não é de Lula se constitui num toma lá dá cá como o que acontecia com as contribuições às campanhas eleitorais?

Não, novamente sinto muito, mas Lula não estava em campanha e ainda nada sinalizava que ele voltaria a ser candidato em 2018.

Alguém, talvez o mesmo alguém, poderia argumentar: ah, mas a reforma aconteceu para que Lula influenciasse Dilma em contratos com as empreiteiras.

Não, isso nunca aconteceu. Lula sempre se manteve distante do governo Dilma.

3) Lula foi ético ao aceitar de presente as reformas?

Primeiramente, não vamos ser ingênuos ao crer que as reformas no sítio, embora não pertencente à Lula, não fossem de seu conhecimento. Foram sim.

Lula então foi antirrepublicano? Anti-ético?

Antirrepublicano, claro que não, uma vez que não era mais presidente.

E anti-ético?

Aí a questão é mais complexa.

Este blogueiro, que já ocupou cargo público executivo no passado, já passou por situação de certa forma semelhante.

Havia um contrato, executado dentro das normas legais, com medição já concluída, portanto, o executante nada mais teria a receber, certo?

Mesmo assim, ele ofereceu ao blogueiro uma reforma em seu apartamento, pintura, ou que precisasse.

Sua intenção seria então que eu o favorecesse num futuro contrato? Como, se ele teria de participar de uma licitação conduzida de forma absolutamente lícita?

Um presente apenas. Que não aceitei. Não precisava. Então nem considerei. E vale lembrar que eu ainda estava no cargo.

Mas, e Lula?

Cada cabeça, uma sentença, dizem.

Mas acho que a partir de 2010 sua cabeça já era outra.

Decidiu montar seu instituto. Decidiu dar palestras munido de seu alto capital adquirido em 8 anos de gestão exitosa.

Decidiu abrir mercados para o Brasil no exterior para que nossas empresas pudessem competir com as empreiteiras americanas que papavam toda e qualquer concorrência a preços elevados.

Decidiu exportar nossa tecnologia adquirida durante décadas de execução de obras monumentais.

Decidiu, enfim, criar empregos para os brasileiros que se dispusessem a trabalhar por essas empresas no exterior.

Confesso que tentei, tentei, e depois de muito tentar, tentei novamente enxergar na atitude de Lula o mais leve sinal de falta de ética, mas fracassei.

Quiçá de desonestidade.

Desonestidade seria Lula ter utilizado recursos do governo na construção de um aeroporto particular em terras de seu tio-avô.

Isso sim, seria muito condenável.

Mas como a presidenta e seu ministro são republicanos, o Procurador Janot e a Polícia Federal continuarão a alimentar o ego do juiz Moro.

E concluo que Dilma, Cardozo e até mesmo Lula são alvos daqueles que se aproveitam, de maneira aética (com licença do trocadilho) do discurso republicano.

Em tempo, há um boato sobre a saída de Cardozo.

Espero sinceramente que um próximo nome seja capaz de contrariar Dilma.

E que Dilma continue a ser ética.

Mas, se ética é a inteligência sendo colocada a serviço da melhor convivência dentro de um determinado grupo, Dilma tem a obrigação de ser ética neste momento determinando que a PGR e PF atuem de maneira isenta na Lava Jato.

Isto é o que todo o povo brasileiro espera dela.





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