segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

FHC, Mírian e os crimes ocultos

Por Fernando Castilho





Sem resvalar na vala comum de comentar o aspecto pessoal, a análise aqui pretende elencar os aspectos não éticos e mesmo criminosos que emergem do relato da jornalista Mírian Dutra e que precisam ser investigados, se é que se pretende realmente combater a corrupção no país. Mas, se o que se pretende é somente fazer política, talvez seja melhor dizer que não vem ao caso.

A matéria do DCM, EXCLUSIVO: MÍRIAN DUTRA DIZ QUE GLOBO FOI BENEFICIADA COM DINHEIRO DO BNDES AO ‘EXILÁ-LA’, de autoria de Joaquim Carvalho, dá uma lição de jornalismo investigativo à grande mídia, principalmente ao jornal Folha de São Paulo que foi quem publicou a entrevista com Mírian Dutra.

Pincei alguns tópicos que considero muito importantes e os analiso tomando o cuidado de não resvalar para a vala comum do aspecto pessoal da vida dos atores envolvidos.

1) “O Fernando Henrique me ligou várias vezes e me pediu que recebesse a revista Veja em Florianópolis, onde eu estava para ganhar o bebê, e dissesse que o filho era de outra pessoa. Era uma coisa meio esquisita. Quem eu era para aparecer na Veja?”

A ideia de publicar a nota na Veja em que Mírian diz que o pai de seu filho era um biólogo, tinha partido de Mario Sergio Conti, que tinha assumido pouco tempo antes a direção de redação da revista.

Foi uma armação do Fernando Henrique com o Mario Sergio”.

Veja já não goza de nenhuma credibilidade como órgão de imprensa séria no Brasil. Até duvido que a direita realmente confie cegamente no que a revista ''noticia''.

Prefiro crer que a fidelidade de seu público se deva apenas a uma necessidade de masturbação mental à que ele se entrega semanalmente.

Mas é claro que, se ainda não tinha atingido o limite perigoso do mau-caratismo, agora ela ultrapassou.

2) “Ouvi dele (FHC) muitas vezes que seria presidente, porque os políticos no Brasil não sabiam de nada, eram mequetrefes.''

Faz parte da personalidade do ex-presidente. Pela sua formação como sociólogo, ele acreditava e ainda acredita ter mais conhecimento dos problemas do Brasil do que os simples mortais. O ex-presidente sempre foi vaidoso e sempre demonstrou menosprezo para com os simples mortais. A lista é grande, desde os aposentados a quem ele chamou de vagabundos aos nordestinos a quem ele qualificou de bovinos.

3) Mirian chama sua saída do Brasil de um auto exílio, e diz que o diretor de jornalismo da Globo à época, Alberico de Souza Cruz, padrinho do seu filho Tomás, o ajudou muito nessa saída.

Eu gosto muito do Alberico, e ele dizia que me ajudou porque me respeitava profissionalmente. Éramos amigos, conhecíamos segredos um do outro, mas eu fiquei surpresa quando, mais tarde, no governo de Fernando Henrique, ele ganhou a concessão de uma TV em Minas. Será que foi retribuição pelo bem que fez ao Fernando Henrique por me ajudar a sair do Brasil?”

Essa nefasta barganha política, o poder de distribuir benesses com recursos do Estado em retribuição a favores, chama-se tráfico de influência, e se for comprovada, trata-se de crime.

4) “Por que a imprensa não vai atrás dessas informações? A minha irmã, funcionária pública sem nenhuma expressão, tem um patrimônio muito grande. Só o terreno dela em Troncoso vale mais de 1 milhão de reais. Tem conta no Canadá e apartamentos no Brasil. Era a ‘cunhadinha do Brasil’”.

A irmã é Margrit, Dutra Schmidt, viúva do lobista Fernando Moura, proprietário da Polimídia, que conseguiu o contrato para Mirian com a Eurotrade Ltd., com sede nas Ilhas Cayman, offshore da Brasif. Margrit é assessora do senador José Serra, recebe 9 mil reais por mês para, segundo o senador, desenvolver um projeto sigiloso.

Se for comprovado que Margrit recebe do Senado sem trabalhar, Serra está incorrendo em crime.

5) “Me manter longe do Brasil era um grande negócio para a Globo”, diz. “Minha imagem na TV era propaganda subliminar contra Fernando Henrique e isso prejudicaria o projeto da reeleição.”

O jornalista pergunta: Mas o que a empresa ganhou com isso?

BNDES”.
Como assim?

Financiamentos a juro baixo, e não foram poucos”.

Ora, ora, ora, vejam só!
O que todo mundo já tinha como praticamente certo, agora vem da boca de Mirian.
Usar o BNDES para ajudar a Rede Globo que detém a TV Globo, uma concessão do Estado, e ainda mais com juros baixos também se constitui em crime.

6) ''Agora eu tenho que ler até o artigo de uma jornalista que me conhece e sabe bem dessa história, a Eliane Cantanhede, que me compara ao caso da Luriam, Míriam Cordeiro. Esse pessoal perde a compostura quando é para defender seus amigos. Absurdo.”

Eliane Cantanhede que afirma gostar do cheirinho dos tucanos conhece bem a história de Mirian, mas em sua coluna no Estadão sugere que o PT está por trás das denúncias, numa tentativa de vitimizar FHC e por tabela, bater um pouco mais em Lula.

Se já gozava de pouca credibilidade, Cantanhede agora pode ser classificada como no mínimo hipócrita.


7) “Sobre o Luís Eduardo (Guimarães, deputado morto em 1988), tem uma coisa interessante: eu era amiga dele antes do Fernando Henrique e fui eu que aproximei os dois.”

No almoço, Luís Eduardo levou o pai, o senador Antônio Carlos Magalhães, que ela também conhecia, e ouviu deles, mas principalmente de ACM, que não era hora de voltar, que Fernando Henrique disputaria a reeleição e ela deveria ter paciência.

Foi quando entendi que eu deveria viver numa espécie clandestinidade. Se eu voltasse, não seria bem recebida e as portas se fechariam para mim”.

Uma das coisas que depõem contra Mirian é sua amizade com Antonio Carlos Magalhães, o Toninho Malvadeza, como era conhecido. Outro de seus amigos é Jorge Bornhausen, uma espécie de genérico de Toninho.

Más companhias, minha filha, não lhe ajudam em nada, como já está provado.

8) No almoço com Luís Eduardo Magalhães, havia uma quarta pessoa, cujo nome prefere não revelar no momento. Era representante da TV Globo.

Tudo se encaixa. Foi nesse almoço que se acertou que a Globo bancaria Mirian na Europa, mesmo sem precisar trabalhar.

As considerações finais.

1) Mirian Dutra parece que nunca escolheu bem suas amizades. A lista é grande: Alberico de Souza Cruz Antonio Carlos Magalhães e seu filho, Jorge Bornhausen, Eliane Cantanhede e o próprio FHC. Ligar-se a pessoas sem ética ou caráter não ajuda muito se quisermos ter uma compreensão de sua atitude neste momento.

2) Embora Mírian alegue que o fim de seu contrato com a Globo lhe deixou livre para falar o que precisava, também se pode especular que enquanto ela recebia ótimo salário para viver na Europa sem trabalhar por muitos anos, tudo foi muito cômodo, conveniente.
Ela também não se importou quando seu cunhado ''ajeitou'' uma forma de conseguir um contrato fictício com a Eurotrade Ltd. (Brasif).

De certa maneira, a velha troca de favores com o poder lhe favoreceu. Pode-se considerar que seu comportamento não foi dos mais éticos.

Além do apartamento comprado na Espanha, seu filho estudou em ótima Universidade e ainda ganhou de presente de seu pai um apartamento de 200 mil euros, cerca de 900 mil reais. Agora a fonte secou.

3) FHC teria que ser investigado pela Polícia Federal por tráfico de influência, envio de recursos ao exterior através de empresa (isso, enquanto presidente) e manutenção de contas em bancos estrangeiros. É preciso verificar se a doação de 200 mil euros em dinheiro vivo está declarada ao fisco.

Além disso, é preciso que se saiba se foi FHC quem negociou junto à Veja a mentira publicada. A troco de que? BNDES também?

4) José Serra também precisa ser investigado por manter funcionária do Senado que não comparece ao trabalho nem marca ponto.

5) A Rede Globo, pertencente aos irmãos Marinho, proprietários de um tríplex construído em Paraty, em área de preservação ambiental, denunciado pelos blogs, também tem que responder por manter uma funcionária fora do país sem que precisasse trabalhar.


Como se vê, este caso parece furo em canoa: por mais que se tire com balde, não para de entrar mais água.

A Folha parece que já parou de falar sobre o assunto.

Talvez motivada pelo bom e velho tráfico de influência que não cessa de existir no país.


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