Há esperança para Dilma e o PT sem os movimentos sociais?

Por Fernando Castilho

Lula em Vila Euclides

Este texto foi escrito na véspera da comemoração dos 35 anos do PT. Espero que Dilma , Lula e o partido falem aquilo que queremos ouvir.

Ao dar uma aula de sociologia esta semana, acabei entrando num tema interessante e espinhoso. A legitimização do Estado ao cometer violências contra a população.

Sim, quando o indivíduo comete ato violento contra um seu igual, está sujeito às penas da Lei e deve pagar por isso.

Mas e quando é o próprio Estado que comete o ato violento? Como quando a Polícia Militar, uma instituição do Estado, reprime com violência uma manifestação de um movimento social? Ela deve ou não ser punida?

No final da aula, um rapaz veio a mim e perguntou: O que é movimento social?

Empalideci.

O que veio à minha mente foram imagens do passado. De 35 anos atrás, quando o PT foi fundado.

O rapaz não conhece movimentos sociais simplesmente porque eles não mais existem ou porque saíram da mídia?

Após refletir sobre isso durante alguns dias, outras imagens foram se formando. Lembro-me de Djalma Bom, líder metalúrgico do mesmo sindicato do ABC de onde Lula saiu, que, ao perder as eleições para prefeito de São Bernardo do Campo em 1992 me disse com seu sotaque meio mineiro, meio italiano: Sabe por que perdemos, Fernando? Perdemos porque não tivemos os movimentos do nosso lado.

Verdade. E que se aplica agora a Dilma Rousseff.

Este blogueiro está cansado.

Cansado de tentar defender a presidenta contra os ataques da mídia e das pessoas que lhe seguem a cartilha.

Embora tenha acompanhado a formação do PT, se filiado ao PT e lutado junto com o PT para a sua construção, o blogueiro hoje milita independente, da maneira que lhe é possível, na esquerda. O blogueiro defende o combate às desigualdades sociais, o emprego, a moradia, a melhoria na saúde e educação públicas, o combate aos preconceitos, enfim, as bandeiras da esquerda e por coincidência, as bandeiras que o PT também vem defendendo com êxito desde 2003. Mas se precisar sair às ruas, sai.

Porém, está cada vez mais difícil numa conversa, ao defender esses princípios, responder à clássica pergunta feita por alguém da classe média brasileira, enquanto segura mais fortemente a bolsa: Você é petista?

Não tem jeito, ao conversar sobre política, logo vêm os ataques ao partido.

Ao abrir um jornal, lá está, invariavelmente na manchete alguma frase acusando o PT de algo.

É todo dia, é toda hora.

Lógico, estamos cansados de saber que há uma campanha sórdida e injusta para que no Aurélio entre como sinônimo ao verbete ''corrupção'' a sigla PT.

Petralhas, bandidos, ladrões é como somos chamados.

Veja que João Vaccari Neto, secretário de Finanças do PT foi conduzido de forma coercitiva para prestar esclarecimentos à Polícia Federal, praticamente como um bandido já julgado e condenado. Pedro Barusco, ex gerente de serviços da Petrobrás, garante que o PT recebeu até 200 milhões de dólares em propinas. Sabem quanto é isso? R$547.720.000,00. Quase 8 mega senas. Uma fortuna inimaginável. Dava pra todo mundo mundo do PT viver nababescamente. Mas eles estão?

É um golpe contra Dilma que está em andamento?

Sim, e muito bem articulado. Porém, até que está acontecendo lentamente. A oposição e a mídia estão se aproveitando mal da inanição e da falta de reação da presidenta. Ela e o PT dão diariamente sua contribuição para isso.

Mas como poderia Dilma reagir?

Falhou na eleição do presidente da Câmara. Não só ela, mas principalmente o PT.

Dilma falhou ao permitir que, sob seu olhar, enquanto dava poderes à Polícia Federal para trabalhar com isenção, o PSDB a aparelhasse.

Dilma falhou ao não perceber a direita praticamente assumindo controle do MP e do STF.

Tá tudo dominado. Aparelhado.

Após uma disputa dura no segundo turno das eleições contra um despreparado Aécio Neves que, depois de estar com reles 15% nas pesquisas, quase lhe tomou a dianteira, ao invés de honrar os votos de quem, mesmo reconhecendo nela fragilidades durante os debates, deu-lhe votos de confiança, resolve nomear ministros notoriamente da direita., traindo esses votos.

O intuito de Dilma, incrivelmente ingênuo, seria o de abrandar os ataques da mídia, de Aécio, do príncipe da privataria e da oposição, esperando que eles fossem republicanos a ponto de publicar nos jornais:''Dilma toma medidas para recolocar o Brasil nos eixos!'', ''As escolhas de Dilma não poderiam ser melhores!''?

Esse pessoal não quer o melhor para o Brasil. Esse pessoal quer somente saquear o país como sempre fez até 2003, mais nada.

E os movimentos sociais?

João Pedro Stédile, líder do MST, em novembro afirmou que se houvesse impeachment de Dilma, seria destampada a Caixa de Pandora da revolta popular.

O MST, apesar de não ter sido ao longo dos últimos 4 anos, contemplado na Reforma Agrária com a seriedade que merece, ainda dá seu voto de confiança à presidenta! Incrível! Será que hoje, Stédile ainda pensa assim?

Guilherme Boulos, líder do MTST, que defende a luta pela moradia e a reforma urbana, também deu seu voto de confiança à Dilma. O que o movimento recebeu em troca?

E os sindicatos, berço do PT?

A verdade é que Dilma ignorou os movimentos sociais em seu primeiro mandato.

O PT, que foi formado a partir desses movimentos, agora parece que não mantém mais contato com eles.

E se ainda existem, existem sem o PT.

Dói, ao ler posts no Facebook em que petistas convocam os movimentos para as ruas para defender o mandato de Dilma...

Santa ingenuidade...

O poder de mobilização do PT ainda sobrevive nas redes sociais e só.

Por isso, o blogueiro pessimista defende que Dilma deixe de governar de dentro de seu palácio, saia às ruas, receba os movimentos, dê entrevistas coletivas, utilize os espaços a que tem direito na TV, utilize ao máximo direitos de respostas, processe os jornalistas (já sei, tem gente que questionará sobre a liberdade de expressão) que publicarem notícias ou comentários levantando calúnias sem citar fontes, cancele verbas publicitárias do governo na grande mídia, etc..

Quanto ao PT, que se posicione mais fortemente sempre que for acusado. Que também acuse enfaticamente quem, sendo da oposição, precisa ser acusado.

Estão aí denúncias sobre mensalão tucano, trensalão, Petrobrás, seca em São Paulo, etc., para serem também exploradas pelo partido.

Que não fique quieto, que volte a ser de luta, que volte a ser combativo, que não tenha medo, pois é seu futuro e de milhões de brasileiros que está em jogo.

E que trate urgentemente de retomar seu contato com os movimentos, fortalecendo-os para que, num futuro próximo ninguém venha a perguntar ''o que é movimentos social?''.