Não
adiantou Lula, ainda uma voz lúcida dentro do PT,
pedir que o partido fizesse um acordo com o PMDB, já que a derrota
parecia provável.
A
insistência na chapa de Arlindo Chinaglia na base do ''vamos ver no
que dá para ver como é que fica'' demonstrou uma cegueira e uma
imaturidade muito grandes por parte dos deputados petistas.
O
fato de Eduardo Cunha ter vencido Chinaglia por 267 a 136 votos, uma
diferença significativa de 131 votos (!) causa-nos surpresa pela
nossa condição de espectadores externos à Câmara, mas aos
parlamentares governistas, internos à Casa, esses números já
deveriam ser familiares há uma semana pelo menos.
Podem
dizer que o PSDB traiu Júlio Delgado do PSB, com o qual estava
fechado (e traiu mesmo pois faz parte de sua natureza), votando em
Cunha, mas mesmo assim, Chinaglia já entrou derrotado na disputa. Os homens são ''profiças''.
Apesar
dos avisos de Lula...
Dilma
Rousseff foi reeleita em meio a uma campanha caracterizada pelo
antipetismo incutido pela imprensa nas cabeças da população
durante os quatro anos de seu governo.
Valeu,
para a direita e sua linha auxiliar, a velha mídia, investir pesado
num despreparado Aécio Neves para chegar ao segundo turno quase em
condições de vencer a presidenta.
Não
deu, mas os descontentes, durante um mês tentaram um terceiro turno
pregando impeachment e volta da ditadura.
A
mídia golpista tratou de divulgar dia sim, dia também, qualquer
ilação, suposição ou disse que disse sobre a Petrobrás, mesmo
sem fontes, não no intuito de combater a corrupção (a mídia não
é tão nobre assim), mas de fermentar o antidilmismo até o ponto em
que o impedimento da presidenta fosse clamor nacional. Foi assim que
Carlos Lacerda agiu com relação a Getúlio Vargas. Esconde, porém,
que FHC e o PSDB foram os que mais se beneficiaram com o esquema.
Não
adiantou, após a vitória, a flexão de Dilma , nomeando um
ministério que fosse deglutível pela direita, visando garantir um
mínimo de governabilidade.
O
que os abutres, e a julgar pelas fotos de comemoração pela vitória
de Cunha, as hienas querem não é governabilidade do país. Não é
o controle da inflação, o aumento do PIB, o equílíbrio das
contas. Não é o bem do Brasil. Que isso tudo vá às favas. O que
querem é pura e simplesmente o golpe, a extinção do PT e de seus
programas sociais e, a cereja do bolo: a inviabilidade da candidatura
de Lula em 2018.
Esse
é o perfil do Congresso eleito pelo povo para esta legislatura.
Conservador, de direita, preconceituoso, homofóbico e tudo o mais de
ruim. O golpe está montado e as engrenagens estão azeitadas para
esse fim. A eleição de Eduardo Cunha é só mais uma parte do plano
sendo posta em prática.
A
mídia fez o que pode para investir na candidatura de Cunha e em sua
vitória. Aliás, hoje a Folha de São Paulo publica um texto com o
título ''Para colegas, novo presidente da Câmara é pau pra toda
obra'', em que exalta sua grande capacidade de trabalho e sua
dedicação em tempo integral à Casa, sempre com seu celular colcado à orelha. Que bom, não? Igual a Maluf,
que também tinha a fama de trabalhador...
Assessores
da Câmara e lobistas com acesso a parlamentares do PMDB relatam que
Eduardo Cunha registra em uma agenda a lista de empresas ligadas
principalmente aos setores de energia, telefonia e construção civil,
beneficiadas por sua atuação parlamentar.
A
serviço da Globo e das teles, lutou para impedir a aprovação do
Marco Civil da Internet, uma grande conquista para quem se utiliza da
rede.
O
homem é querido por intermediar financiamentos de campanha à vários
deputados, seus pares. Toma lá, dá cá.
Embora
a mídia não divulgue, é certo que as empreiteiras elencadas no
esquema de propinas da Petrobrás têm atuado e muito nesses
financiamentos. O deputado foi citado na Operação Lava Jato e será investigado por isso.
Eduardo
Cunha também foi acusado de ter feito negócios com o megatraficante
de drogas colombiano Juan Carlos Abadía, preso em 2007 pela Polícia
Federal.
Não
vamos listar todos os processos contra o deputado por falta de espaço
e paciência.
Bem,
e agora, José?
Para
dizer o mínimo, o governo perdeu a governabilidade. Não passará na
Câmara mais nenhum projeto de interesse da população, podem estar
certos. Não passará a reforma política e o fim do financiamento
privado de campanha. Também não passará a Regulação da Mídia. Ele não
colocará em pauta por não ser de interesse de Globo, Folha de São
Paulo, Estadão e Editora Abril. Mas tudo o que vier da oposição
terá seu processo agilizado, CPI para tudo, podem crer.
Embora
negue, é bem provável que Cunha trabalhe agora pelo impeachment de
Dilma.
Quanto
a isso, uma outra peça na engrenagem do golpe, o jurista Ives
Gandra Martins já deu seu parecer favorável.
Não
nos enganemos. Há um terceiro turno em andamento.
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