Promessa de Marina (se não houver recuo) |
Porém
foi surpreendido pelo texto de Rogério Maestri, publicado no GGN, que considerou muito
bom a respeito do tema.
O
blogueiro resolveu, então, escrever sua análise e juntar no blog a
opinião de Maestri, de forma a reunir um maior número de
informações e oferecer uma compreensão mais completa sobre o
assunto.
Quisera
ter no meu telhado uma hélice que, só com a força do vento,
pudesse manter minha geladeira ligada, aquecer meu chuveiro, dar vida
a meu computador, acender as luzes de minha casa. Mas a vida é mais
dura que isso...
O
Programa de Governo de Marina Silva, no que diz respeito às
diretrizes de sua política de energia, afirma em seu segundo
parágrafo:
''Em
2013, 80% do aumento da oferta energética no Brasil se deu por meio
de fontes fósseis e não renováveis, já em consequência dos
limites hidrelétricos.''
Nada
mais falso. A utilização de fontes fósseis, as usinas
termoelétricas, se deu em função da necessidade urgente de suprir
o parque energético brasileiro, uma vez que sua construção, em
virtude do tamanho, principalmente, é muito mais rápida do que uma
planta hidrelétrica. Todos sabemos que o Brasil possui uma oferta
hídrica imensa, que está longe de ser esgotada.
Rogério
Maestri explana bem sobre as diferentes fontes de energia, porém não
posso resistir a rir do parágrafo em que o programa defende a
utilização de energia geotermal, que se aplica somente em países
que possuam vulcões, ou em regiões onde a crosta terrestre é mais fina.
O
plano de Marina diz:
''Estabelecer
a meta de construir 1 milhão de casas com sistemas de autogeração
de energia a partir de painéis solares fotovoltáicos e de ter 3
milhões de casas com aquecimento solar de água até 2018.''
Para
o consumo médio de residências brasileiras de 250 kWh de energia
por mês são necessários oito painéis para abastecer completamente
a casa e um custo de instalação médio de 15 a 20 mil reais para a
aquisição de painéis solares de silício cristalino e filmes
finos, os mais comuns no mercado. O retorno financeiro pode demorar
15 anos.
O
custo de manutenção é alto, e a estimativa de vida dos painéis é
de cerca de 20 a 25 anos.
E
parece que os autores do programa desconhecem que o rendimento das
células fotovoltáicas de silício cristalino é de apenas 15 a 21%,
o que acaba com o mito de que o usuário pode vender o excedente da
geração à concessionária de energia. Somente quando ele for
viajar em férias e deixar a casa vazia.
''Além
disso, o custo elevado dos equipamentos pode ser atenuado por
incentivos fiscais ou subsídios devidamente explicitados no
orçamento do setor público, de modo que a adesão se torne
atrativa. ''
A
presidenta Dilma Rousseff no começo do ano propôs um desconto de
cerca de 20% na conta de energia elétrica do usuário de painéis
solares. O plano não menciona isso.
Mais
desconhecimento:
''O
lugar menos ensolarado do país recebe 40% mais energia que o lugar
mais ensolarado da Alemanha, um dos países que mais investiram nessa
fonte nas últimas décadas.''
É
um engano pensar que, devido ao seu privilegiado banho de sol anual,
o Brasil tenha a vocação para o uso dos painéis, pois o rendimento
mais eficiente se dá em dias nublados, e não ensolarados, devido à
maior densidade das nuvens, já que a reflexão é a responsável
pela maior geração de energia.
Mais
plausível é a proposta de construção de 3 milhões de casas com
aquecimento solar até 2018. Realmente, esta é a melhor forma de
utilizar a energia solar, para aquecimento de água. O sistema é bem
mais barato do que os painéis fotovoltáicos, e requer menos
manutenção. Restou dizer se as casas serão as do Programa Minha
Casa Minha Vida, de Dilma. Aliás, parece que a equipe desconhece que
atualmente as casas do programa já vem com aquecimento solar...
Minha Casa Minha Vida |
Quem
quiser se aprofundar na pesquisa, uma das fontes que o blogueiro mais
consultou, pela qualidade das informações foi a Dissertação de Mestrado de Marcos de Araújo Cesaretti
Agora, sobre
energia eólica e outras fontes, vale a pena ler Rogério Maestri.
Por Rogério
Maestri
O
primarismo da proposta energética de governo de Marina.
1)
Introdução.
Quando
se quer renovar é necessário ter uma base sólida para não cair em
grandes bobagens, e me parece que isto está ocorrendo no programa de
governo de Marina.
Como
a proposta básica de Marina Silva é a sustentabilidade, ou seja,
onde ela se diz mais forte, fui exatamente ao programa no item
referente aos “cinco grandes focos” para “a sustentabilidade da
matriz energética brasileira”, onde li os pontos básicos, que
transcrevo literalmentre, são:
"1)
aumento da eficiência energética;
2)
aumento da participação da eletricidade na matriz energética;
3)
realinhamento da política para focar nas fontes renováveis e
sustentáveis, tanto no setor elétrico como na política de
combustíveis, com especial ênfase nas fontes renováveis modernas
(solar, eólicas, de biomassa, geotermal, das marés, dos
biocombustíveis de segunda geração);
4)
redução de consumo de combustíveis fósseis e
5)
ampliação da geração distribuída."
A
grosso modo, este programa parece correto e levaria a um resultado
satisfatório e desejável para qualquer país, porém olhando em
detalhes ele provocaria um caos energético na matriz energética
brasileira, logo vamos aos fatos.
O
primeiro item, logicamente já está sendo feito atualmente, pois
significa reduzir as perdas do sistema, porém isto deve ser feito
por financiamento público, pois para as companhias privadas
nacionais muitas vezes é mais econômico manter o sistema como está
do que ter que investir, por exemplo, na diminuição do fator de
potência que leva a altas cargas resistivas. Ou seja, a pergunta
quem é sempre feita, quem vai pagar a conta?
Pode-se
passar a políticas punitivas aos consumidores, obrigando-os a se
ajustarem a metas de melhoria na eficiência, em resumo obrigando os
setores industrial, comercial e residencial a investimento, como por
exemplo, passar toda a iluminação residencial a lâmpadas LED, mas
tudo isto tem um custo e não é baixo.
Os
itens (2) e (4) podiam ser resumidos em um só item, a substituição
da energia de queima de combustíveis fósseis por geração e
transmissão de energia elétrica por outras fontes.
No
item (5) a ampliação da geração distribuída já é permitida e
feita nos dias atuais, mas como geralmente a energia é gerada por
meios convencionais ou por fontes renováveis, como a instalação de
células fotovoltáicas em casas, transferem-se custos altíssimos
para o proprietário que instalará as sua autogerarão.
Mas
o mais preocupante do tudo são os detalhes que aparecem no núcleo
da proposta, o item (3). Para que as propostas (2) e (4) se
viabilizem é necessário que a (3) funcione, ou seja, que haja um
realinhamento da política de geração de energia.
2)
Comentários sobre fontes alternativas de geração.
Neste
ponto que está o nó da questão, para se gerar energia se pode, por
exemplo, extrair das cascas de laranjas ou tangerinas, combustíveis
líquidas isto é possível e foi feito na segunda guerra pelos
alemães para suprir com um mínimo de combustível seus aviões
devido a total carência de outras fontes, diga-se de passagem, que
após a guerra nunca mais se fez isto porque os custos econômicos e
principalmente energéticos são altíssimos.
Ou
seja, no momento em que se gera energia tem-se que levar em conta o
custo monetário e principalmente o custo energético que necessário
para a extração do mesmo. Um exemplo mais recente é o biodiesel,
com as técnicas atuais de geração de biodiesel a energia
necessária para gera-lo é praticamente a mesma que ele produz, ou
seja, se troca seis por meia dúzia.
Curiosamente
na proposta de governo de energias alternativas se coloca uma pequena
mentira e se omite uma grande verdade.
Primeiro
a grande mentira está na expressão “fontes renováveis modernas”,
dando o aspecto que as fontes como as citadas, solar, eólicas, de
biomassa, geotermal, das marés, dos biocombustíveis de segunda
geração, são grandes novidades e podem surpreender
tecnologicamente a todos, pois bem vamos colocar algumas datas do
início da geração de cada um dos itens.
A
energia solar é utilizada há mais de 200 anos em caldeiras e
coletores parabólicos para a geração direta de calor, o efeito
fotovoltáico é mais recente foi descoberto em 1839 por Edmond
Becquerel e já tem 60 anos de utilização pública (1955 em Phoenix
no Arizona).
Com
a necessidade de fornecer energia a satélites, pesquisas com alto
grau de sofisticação e alto grau de tecnologia estão sendo feita
há mais de 50 anos sem ainda gerarem coletores eficientes e de baixo
custo, há à venda coletores solares de baixo custo no momento
devido a razões de superprodução encalhada destes pelos chineses
(a Europa deixou de investir em fotovoltáica e os chineses encalharam
com bilhões em fábricas e estoques).
A
energia eólica, como todos sabem, já Dom Quixote lutava contra
moinhos de vento, e ela se encontra já tocando no limiar de
eficiência teórica dessas máquinas. Sabendo que o vento é
aleatório e que poucas regiões (que já estão sendo aproveitadas)
tem ventos fortes e constantes esta energia já está sendo utilizada
baseada em FORTES SUBSÍDIOS ESTATAIS. No momento em que se passar
para uma escala maior de utilização os subsídios ainda terão que
ser mais fortes, pois as regiões melhores já estarão sendo
utilizadas e não há possibilidade de aumento na eficiência do
sistema de geração.
Outro
problema da energia eólica é a falta de estabilidade na geração
que ela leva ao sistema de distribuição. Na Alemanha, onde o
sistema de distribuição é bem mais robusto e concentrado que o
nosso, esta instabilidade está gerando grandes problemas.
Biomassa,
já temos claro o problema, se expandirmos mais a produção de
álcool de cana de açúcar diminuiremos a produção de alimentos ou
teremos que ocupar novas áreas de produção! A geração de energia
por biomassa já é conhecida há bastante tempo.
Quanto
à geração de energia por marés, coisa que apesar de já ter sido
em 1966 inaugurada a primeira usina marémotriz do mundo em La Rance,
na França, ela tem uma necessidade indispensável, a existência de
marés de fortes desníveis, que são extremamente raras nas costas
brasileiras. Poderíamos no Maranhão e noutros lugares do norte do
Brasil, a custa de eliminação de mangues, produzirmos uma energia
ínfima que não compensaria a destruição do meio ambiente causada
pela mudança dos períodos de enchimento e esvaziamento dos
estuários e baias, ou seja, o estrago ambiental seria enorme em
relação a uma energia mínima.
Bicombustíveis
de segunda geração ainda estão em pesquisa, não se sabendo ainda
o que dará em relação custo econômico e energético para sua
implantação comercial, ou seja, talvez num futuro não muito
distante, uns cinco a dez anos isto seja uma solução, mas não se
pode contar com algo que está ainda em pesquisa para substituir a
matriz energética.
Quanto
a uma das “fontes renováveis modernas” a energia geotermal, é
uma verdadeira piada colocar isto num programa de governo, e pior,
não foi ocasional, pois já verifiquei isto! Primeiro que ela não é
“moderna” em 1911começaram os primeiros projetos experimentais
na Itália e em 1913 era gerado numa instalação comercial 250 kW no
mesmo país. Mas sempre com um detalhe, é necessária uma região
com VULCÕES para que gere este tipo de energia. Há também a
possibilidade em regiões em que a crosta terrestre seja mais fina
fazer grandes perfurações com sondas iguais às de petróleo para
atingir regiões onde a Terra está suficientemente quente, mas isto
só é possível quando se tiver uma geologia extremamente
conveniente, e, além disto, injetando-se água nessas perfurações
podem-se obter gases extremamente tóxicos na saída do vapor.
Para
complementar o assunto fontes renováveis, A GRANDE VERDADE OMITIDA
NO PLANO DE GOVERNO, sobre energias renováveis é que é
DELIBERADAMENTE ESCONDIDA a única grande fonte de energia renovável
abundante e barata que existe no Brasil, a HIDROELETRICIDADE.
São
dois motivos que levam a não citação desta fonte de energia, um
que é comprovadamente falso, a emissão líquida de gases de efeito
estufa em reservatórios em países de clima tropical e semitropical
e outro que é resolvido por uma política correta de compensações,
o desalojamento de populações ribeirinhas.
Em
países frios, como a Noruega, a geração por hidroeletricidade é
considerada ecologicamente correta, sendo destacado em todo o mundo
que a geração de gases de efeito estufa é mínima e que esta
energia é “limpa”.
A
partir de poucas observações em barragens nos trópicos que criaram
problemas ambientais (Petit Salut na Guiana e Balbina no Brasil),
extrapolaram-se os dados dessas para todos os futuros
aproveitamentos. Além disto, os balanços entre a liberação de CO2
foram feitos de forma incorreta não levando em conta uma série de
fatores que não cabe aqui detalhar. Para dar subsídios corretos ao
assunto foi realizada extensa e cara pesquisa que envolveu 108
pesquisadores de cerca de 15 instituições, foram feitas 44
campanhas de campo entre 2011 e 2012, em 11 aproveitamentos
hidroelétricos no Brasil, oito em operação (UHEs Balbina, Itaipu,
Tucuruí, Serra da Mesa, Xingó, Três Marias, Funil e Segredo) e
três em construção (UHEs Santo Antônio, Belo Monte e Batalha), a
conclusão desta pesquisa mostra QUANTITATIVAMENTE que barragens não
são fontes forte emissão de gases de efeito estufa.
Como
conclusão deste trabalho chegou-se a conclusão que à exceção de
Balbina (que era considerada por muitos o modelo de emissão -
1.71959gCO2e/kWh) a emissão de gases por kWh gerado foi para as
usinas de Segredo, Funil, Itaipu, Xingó foi de 4,59gCO2e/kWh,
-1,32gCO2e/kWh e -0,5gCO2e/kWh respectivamente (as últimas duas
absorvem CO2). As Usinas de Três Marias, Serra da Mesa e Tucuruí
apresentaram valores mais altos 50gCO2e/kWh, 32gCO2e/kWh e
48,7gCO2e/kWh gerado, que apesar de serem mais altos ainda são
abaixo de qualquer geração com energia fóssil (gás ~400gCO2e/kWh
ou óleo). Estes valores são equivalente ou menores do que barragens
em clima frio, como a canadense Eastmain 47,9gCO2e/kWh. Participaram
deste estudo 108 pesquisadores da CEPEL e COPPE/UFRJ, INPE, UFJF,
UFPA, UFPR e IIEGA.
3)
Conclusão:
Em
resumo, EXATAMENTE onde o PROGRAMA DE GOVERNO de MARINA deveria ser o
mais consistente é exatamente onde apresenta MAIORES CONTRADIÇÕES.
As
propostas de Marina para energia escondem, mais por motivos políticos
do que por princípios ambientais a omissão daquilo que levaria o
Brasil a ser um dos países do mundo com geração de energia LIMPA,
a luta contra a retirada indiscriminada e sem compensações aos
moradores ribeirinhos de rios em que os lagos das barragens
ocupariam, é uma luta justa, mas que passa pelo pagamento de
indenizações e políticas públicas de melhora das condições de
vida destas pessoas.
Porém
para a este ponto há necessidade de capacidade de negociação e
enfrentar o desgaste que esta posição produz.
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