Primeiro ato:
Paulo
Freire disse: ''Luto por uma educação que nos ensine a pensar, e
não por uma educação que nos ensine a obedecer.''
Segundo
ato:
Mauro
Santayana escreveu em seu portentoso texto O PT, O PSDB E A ARTE DE CEVAR URUBUS: ''Perdeu-se a oportunidade - e nisso também devemos nos penitenciar
- de aproveitar o impulso democrático, surgido da morte trágica de
Tancredo Neves, para se inserir, no currículo escolar de
instituições públicas e privadas, obrigatoriamente, o ensino de
noções de cidadania e de democracia, assim como o dos Direitos do
Homem, estabelecidos na Carta das Nações Unidas, e esse tema
poderia ter sido especificamente tratado na Constituição de 1988 e
não o foi. ''
Terceiro
ato:
O
jornal O Globo, no domingo, 8, Dia Internacional da Mulher, publica
na primeira página uma charge de Chico Caruso mostrando a Presidenta
Dilma Rousseff prestes a ser decapitada por alguém vestido à moda
dos militantes do Estado Islâmico. Na legenda, ela diz: ''Também
não é assim. Vamos negociar...''
Quarto
ato:
À
noite, durante o pronunciamento da Presidenta, transmitido para todo
o país, moradores, em sua grande maioria, de bairros nobres de
várias cidades do Brasil começaram um panelaço e buzinaço, ao som
de gritos histéricos e xingamentos como ''vaca'', ''vagabunda'' e
''puta''.
A
esquerda pode discordar das medidas econômicas divulgadas por Dilma
na TV, por terem caráter conservador, pode discordar de medidas que
podem prejudicar o trabalhador, aumentar o desemprego e reduzir
programas sociais.
A
direita não pode, uma vez que, embora haja contradição com o
discurso proferido durante a campanha eleitoral, as medidas são
muito tímidas se comparadas ao que Aécio Neves defendia.
Nada,
mas nada mesmo do que Dilma falou atinge a classe que a xingou.
Portanto,
não foi esse o motivo.
A
Presidenta não está na lista do Procurador Geral da República,
Rodrigo Janot. Não está porque não há citação a ela. Dilma não
é corrupta.
Portanto,
não foi esse o motivo.
Então,
por que a xingaram?
O
ex-ministro da Fazenda de Sarney, ex-ministro de Reforma do Estado no
1° mandato e ex-ministro da Ciência e Tecnologia no 2° mandato de
FHC, Luís Carlos Bresser-Pereira mata a charada em sua entrevista
''Ricos nutrem ódio ao PT'', publicada na Folha e endossada por Luís
Fernando Veríssimo.
O
teólogo Leonardo Boff, vai na mesma linha em seus textos O que se esconde atrás do ódio ao PT (I)? e O que se esconde atrás do ódio ao PT (II)?
Sim,
o ódio ao PT, e por extensão à Dilma tem origem na inversão de
políticas de governo implementadas já no primeiro mandato de Lula,
que acabaram por tirar mais de 30 milhões de pessoas da linha de
pobreza, vindo a dar fim a mais de 500 anos de desprezo dos governos
com relação ao menos favorecidos. Só isso.
É a boa e velha luta de classes, que nunca deixou de existir num país de tanta desigualdade.
É a boa e velha luta de classes, que nunca deixou de existir num país de tanta desigualdade.
É
perfeitamente normal que pessoas descontentes se manifestem e
expressem democraticamente suas razões, afinal, todo dirigente
minimamente sensível tem o dever de ouví-las, colocá-las em pauta
para discussão e tomar ou não medidas cabíveis.
O
Dia Internacional da Mulher simboliza a luta de mulheres que morreram
em razão da reivindicação de direitos, e poderia muito bem ter
Dilma como mulher-símbolo, já que ela própria foi uma lutadora
pela democracia que vivemos hoje.
Mas
ela foi xingada.
E
os xingamentos são todos machistas, vindos de homens e mulheres!
No
Dia Internacional da Mulher!
Por
homens que pela manhã entregaram flores às suas esposas e mães.
Por
mulheres que durante o dia homenagearam umas às outras pelas redes
sociais.
Muitas
gentilezas.
Vaca!
Fosse
homem, não seria possível. Touro seria elogio.
Vagabunda!
Não
cola pois essa mulher trabalha, e muito.
Puta!
Não,
Dilma não é prostituta.
Epílogo:
Dia 15 de março haverá uma manifestação pelo Impeachment de
Dilma. Para os impeachloides tanto faz que assuma Michel Temer, Eduardo Cunha ou Renan
Calheiros, pela ordem.
Não
estão nem um pouco preocupados com a corrupção.
O
que querem é o PT fora.
Dia
8 foi uma amostra do que está por vir.
É perfeitamente normal que pessoas descontentes se manifestem e expressem democraticamente suas razões, afinal, todo dirigente minimamente sensível tem o dever de ouví-las, colocá-las em pauta para discussão e tomar ou não medidas cabíveis.
Mas ela foi xingada, por machistas, homens e mulheres...
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