quarta-feira, 4 de março de 2015

Vem aí, os Gladiadores do Altar!

Por Fernando Castilho


Não me lembro qual filme, visto que era B. Um grupo de pessoas aparentemente normais, quando alguém apertava um botão, se transformava em um exército sanguinário.

Eles são jovens, parecem soldados de verdade, daqueles que os generais de pijama do Clube Militar chamam de Exército de Caxias, o único do Brasil.

De origem humilde, muitos, moradores em favelas, alguns provavelmente com problemas com drogas, e querendo escapar delas.

Para rapazes tentando se libertar de uma vidinha sem perspectivas, tornar-se avião do tráfico é perigoso, mas a perspectiva prometida de vir a ser pastor é tentadora. Dindim fácil e seguro.

Os antigos gladiadores romanos também eram homens tentando se libertar da escravidão através de lutas bem sucedidas, o que lhes poderia garantir um prêmio na velhice, como a liberdade.

As semelhanças não param aí, uma vez que os Gladiadores do Altar ostentam às costas de suas camisetas a imagem de um escudo e uma espada curta, chamada ''gladius'', a mesma dos antigos.

."Graças ao Senhor hoje estamos aqui prontos para a batalha, e decididos a te servir. Somos gladiadores do seu altar. Isso é uma decisão. Todos os dias enfrentamos o inferno confiantes em sua santa proteção", gritam os jovens. Ao fim do discurso, perguntados pelo condutor do juramento "o que os gladiadores querem?", eles respondem em coro: "O altar, o altar, o altar".

A palavra ''batalha'' pode significar muita coisa, desde a batalha do dia a dia ao conflito bélico.

Mas a Universal, a franquia religiosa, de longe a mais bem sucedida, nega motivação violenta ou condenável em jovens uniformizados que marcham e cantam unidos em igrejas.

Então, por que uma espada?
Recentemente um grupo de jovens invadiu o Centro de Ajuda Espiritual da Universal no Senegal destruindo tudo em poucos minutos e ferindo 3 pessoas. Foi a terceira vez.

Alguns obreiros e membros relataram que o povo estava no templo para a busca do Espírito de Deus, quando mais de 100 jovens apareceram cercando o templo e perguntando pelo pastor. Cadeiras, lâmpadas, armários e etc. foram totalmente destruídos e até a bíblia foi rasgada. O pastor teve suas roupas levadas, tendo que ser socorrido por um membro, ficando apenas com a roupa do corpo.

Se por lá existissem Gladiadores do Altar, será que ficava por isso mesmo?

Imaginem agora as comunidades, principalmente de Salvador, onde os cultos afro são praticados por grande parte da população. Não estaria aí uma missão para os gladiadores?
Tremo só de pensar em consequências.

É interessante e sintomático ver que, ao mesmo tempo que uma parcela da população brasileira vai se bestificando, exigindo ditadura, impeachment da Presidenta, pena de morte, homofobia, etc., com reflexos na Câmara dos Deputados, uma igreja vai aos poucos crescendo, estendendo seus tentáculos por todo o Brasil e o mundo, tranformando-se aos poucos numa religião pseudo-judáica. Os adereços estão ficando iguais.

Uma igreja que, enquanto uma instituição que propaga a palavra de Cristo, contrária a qualquer tipo de violência, deveria apaziguar as almas e pregar a tolerância e o amor, como vem fazendo o Papa Francisco.

Ao tempo das Cruzadas, o Cristianismo também arregimentou soldados que partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e à cidade de Jerusalém com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão. Houve batalhas sangrentas por isso. Em nome de Deus.

Principalmente na Palestina jovens impotentes diante da violência do poderoso exército de Israel, todos os dias se incorporam ao Hamas ou ao Hezbollah, e num fenômeno mais recente, rapazes oriundos de várias partes do mundo se agregam ao Estado Islâmico.

Percebam que, embora a Universal negue, trata-se de aproveitar jovens sem perspectiva para empreender guerras religiosas, todas em nome de Deus, como antigamente.

No Brasil, mormente, devido à recente e crescente fascistização que vivemos, os Gladiadores do Altar vêm colocar mais um tempero ao sabor já estranho que estamos experimentando.

Vamos aguardar a evolução dos gladiadores, mas de antemão há que se lembrar que é muito feio uma igreja de Cristo organizar uma milícia como essa, seja para fins pacíficos (porque totalmente ambientada no belicismo) ou não. Além disso é crime desde 2013, constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão.

Se os Gladiadores do Altar pegarem em armas serão considerados milícias. A eles, o rigor da Lei.




Um comentário:

  1. A TFP DA UNIVERSAL:
    Assim nascem os exércitos fundamentalistas: começam com a tradicional lavagem cerebral de jovens sem perspectivas, sem fortes laços familiares, sem formação intelectual suficiente para entender e diferenciar certos valores e, portanto, suscetíveis de serem influenciados. São envolvidos pelo discurso da fé em um deus que exige disciplina e defesa de seus "altares" (sem perceberem que, se esse deus é tão poderoso, por que precisa da defesa de um exército?). Em seguida, essas hordas de jovens tornam-se adultos rancorosos e dispostos a tudo, para defender aquilo que eles julgam estar ameaçado: sua fé. E por quem? Inventa-se um inimigo: os ateus, os gays, os judeus ou os árabes, os católicos, ou seja, qualquer grupo que os líderes escolham como ameaça. Daí para as "guerras santas" é só uma questão de tempo (breve), de oportunidade (que se cria), de motivação (um pequeno incidente, por exemplo, em que algum membro de um dos grupos escolhidos como "inimigo" fala ou faz alguma coisa considerada ofensiva aos valores do fundamentalismo já entranhado na mente dos "gladiadores"). Se tiverem, então, a possibilidade do poder político, estará o caminho aberto para uma teocracia virulenta, sangrenta e, então, meus amigos, salve-se quem puder: o inferno estará instalado. Acham esse meu discurso apocalíptico? Leiam, ouçam, vejam o que está acontecendo no Irã e em outros países, com os jihadistas islâmicos, e acredite: os cristãos (ou ditos cristãos fundamentalistas) são exatamente iguais. Dê-lhes condições e farão igual ou pior.

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