sexta-feira, 20 de março de 2015

O nosso inexcrutável futuro político

Por Fernando Castilho


Bem, é claro que há vida após o 15 de março.

Aliás, quanto menos se falar dessa data melhor.

Mas não tem jeito. Vamos ter que falar durante algum tempo.

Dia 12 de abril haverá mais um ato de protestos pedindo o impeachment da Presidenta.

Sem novidades, portanto.

Não, ela não cairá. A oposição não quer. Não é louca.

Se o improvável impedimento acontecesse, Michel Temer assumiria o governo.

E...surpresa! Ato contínuo, o governo, que vem, segundo a grande mídia, atravessando uma crise econômica sem precedentes, prestes a atingir o fundo do poço, se revelaria de repente...bom!

Temer, sobre quem não paira por enquanto nenhum indício de participação na Lava Jato, tendo o PMDB e, provavelmente a imprensa junto a sí, poderia navegar com céu de brigadeiro, a menos que o PT não deixasse.

Mas o vice presidente não é bobo, e certamente tentaria manter uma aproximação mais que útil com o Partido dos Trabalhadores.

Como ficaria a oposição? A chupar os dedos.

Portanto, de uma vez por todas, defenestrar Dilma não deve fazer parte dos planos dos tucanos, embora Aécio Neves, por não ter assimilado a derrota, ainda nutra suas esperanças. Aliás o Senador parece empenhado em cassar o registro do PT.

Nosso futuro político é inexcrutável, porém, o mais provável é a oposição seguir na linha do senador Aloysio Nunes que quer o sangramento da Presidenta.

Sangrar Dilma até o final de seu governo é uma ótima estratégia para a hipótese da candidatura Lula em 2018, pois o PT se apresentaria a tal ponto enfraquecido que o discurso do ex-presidente seria rechaçado por enorme parte do eleitorado.

Então, se essa for a tática que o PSDB está adotando, o caminho estaria para quem nas próximas eleições presidenciais?

Aécio Neves já pode ser considerado carta fora do baralho pelas suas presepadas, por ser homem dado a rompantes e, sobretudo por ter seu nome citado pelo delator Alberto Yousseff como integrante da lista de Furnas. Alguém duvida?

Geraldo Alckmin, o governador de São Paulo blindadíssimo pela imprensa, que ganhou sua reeleição no 1° turno e, ao contrário do que todos imaginavam, vem atravessando quase que incólume a crise de água em seu Estado (não havia na Paulista uma só bandeira contra ele) é nome fortíssimo na disputa.

O homem, mais liso que sabonete, vem se conduzindo habilmente por este momento político. Não apoiou abertamente os protestos, procurando manter uma postura de democrata, ao mesmo tempo em que liberou as catracas do Metrô no dia 15, agradando também aos impeachloides.

Outro que parece estar sonhando com o Palácio da Alvorada é o governador de Goiás, Marconi Perillo.

Agindo de forma semelhante a Alckmin, porém muito mais afável à Dilma, assinou, ontem, 19, investimento ao BRT Norte-Sul em Goiânia ressaltando em discurso, nunca ter concordado com a "intolerância e as injustiças contra a presidente" e garantiu "não temer" apoiá-la.

Somente por ser ''homem justo''? Não nos iludamos.

Acabou por aí?

Não, ainda resta o eterno, aquele que a tudo vê lá do alto. Aquele que tece as urdiduras na calada da noite, enquanto todos dormem.

José Serra se elegeu Senador, sabemos, muito a contragosto.

Fechadas suas portas para a disputa da presidência em 2014, só lhe restou o Senado para que não se retirasse ao ostracismo de pelo menos dois anos. E ostracismo em política é quase morta certa.

Serra ficará 8 anos no Senado?

Parece improvável, pois aquela casa não tem a cara dele.

É possível que já em 2016 se candidate à Prefeitura de São Paulo.

Agirá da mesma maneira como em 2004 quando venceu Marta Suplicy, saindo já em 2006 para se candidatar ao Governo do Estado, um trampolim melhor para a Presidência?

Novamente sua pedra no sapato seria Marta que deve se candidatar pelo PSB. Mas ele já a venceu antes, e poderia vencê-la novamente.

Pesa contra Serra, porém, o fator idade, o que fará do próximo pleito sua última chance de ser Presidente. Estará em 2018 com 76 anos. E caso vencesse, chegaria ao final do mandato com 80 anos!

Tem mais alguém da oposição?

O PSDB não se preocupou em formar novos quadros, crítica extensiva ao PT.

Dentro da inegável polarização PT – PSDB, resta saber quem se apresentará como candidato do Partido dos Trabalhadores.

Lula? Possível, mas não provável.

Estará em 2018 com 72 anos, mas com certeza debilitado pela sua luta contra o câncer.

Lula, embora seja um guerreiro, haja visto sua atuação na campanha de Dilma, dá sinais de cansaço. E é natural, não podemos esperar que ele seja eterno.

É o mais forte pré candidato até agora, mas vai depender se a sangria da oposição dará certo.

Já repararam que fora Lula, o PT não tem candidato?
Depois que Berzoini, já no começo do governo Lula, e Dirceu foram abatidos em pleno vôo, por já se saber do potencial de cada um deles para a sucessão em 2010, não restou alternativa senão o poste Dilma.

Mas agora não há mais um poste.

Fala-se muito em Fernando Haddad.

O Prefeito de São Paulo é homem culto, inteligente, fala muito bem, e deveria, caso se saísse bem à frente da administração municipal da maior cidade da América do Sul, ser o candidato natural do PT.

Mas a mídia percebeu seu potencial e tratou já desde o começo de engessá-lo.

Por isso, é lógico que a turma de domingo não aprove sua administração, vamos combinar.

Para viabilizar seu nome para 2018, Haddad terá primeiro que emplacar sua reeleição já em 2016.

Resta saber se, faltando 1 ano e 9 meses para o pleito, ele terá tempo de dar a volta por cima.

Alguém poderá dizer que é muito cedo para elocubrações deste tipo.

Na verdade, nós é que somos ingênuos. Uma vez apuradas as urnas, começa-se a articular para os 4 anos seguintes.

E isso já está acontecendo, podem estar certos.





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