Este é um texto daqueles que fala o que todo blogueiro gostaria de escrever, mas o atropelar dos fatos dificulta. Trata-se de um texto que eu gostaria que se estendesse muito mais, delicioso que é. Trata-se de um texto que lamentei ter chegado ao fim. Queria mais.
Escrevo ao som de panelas e gritos de crianças (coitadinhas) de “Fora PT”. O som, desagradável, incomoda mais pela ignorância, pela intolerância e pela tristeza de ver a que ponto pode chegar a manipulação de consciências.
Entorpecido
pela campanha sórdida de uma imprensa que não pensa no país, mas
tão somente em seus próprios interesses comerciais e corporativos,
defendendo seu ultrapassado conceito de neoliberalismo como fruto de
um pensamento e uma postura autocrática, para usar uma linguagem
civilizada, e tendo ainda a seu favor a ajuda vergonhosa de juízes
de direito que estão mais para capitães do mato e chefes de
jagunços, o Brasil vem sendo aos poucos empurrado para a vala comum
da idiotia, da intolerância, do preconceito e do ódio, se já não
bastasse o baixo índice de politização de grande parte de sua
sociedade.
Não
é por acaso que o imortal que ninguém leu deita falação pelos
jornais “convocando” o país a repudiar o ex-presidente Lula.
Logo ele que abriu as comportas da Petrobrás para as grandes jogadas
sem licitação e que, por pouco, não vende a empresa a preço de
banana no mercado das almas. Ele que comprou a sua reeleição e que
chegou com os apaniguados ao limite da irresponsabilidade. Ele e
outros liderados de seu partido que outra coisa não fazem, após as
eleições do ano passado, senão procurarem chifres em cabeças de
cavalo. Hipocrisia em altíssimo grau.
Triste
não é só ver tamanha hipocrisia, mas também o destempero ou a
falta de competência para o cargo que ocupam ou ocuparam homens como
Sérgio Moro, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, a docilidade e a
crença de muitos brasileiros, ingênua até certo ponto, na
expectativa de que esses homens e boa parte do poder judiciário
brasileiro estejam preocupados em julgar com isenção,
imparcialidade e fazer minimamente aquilo que nós pobres mortais
aprendemos a considerar como justiça.
Com
a ajuda da imprensa, cidadãos são julgados sem culpa formada. Com a
ajuda da imprensa, ela mesma envolvida em grandes atos de corrupção
ao longo de nossa história, outros cidadãos com graves culpas no
cartório são mantidos acima de qualquer suspeita, muito embora não
consigam explicar suas contas em paraísos fiscais.
Triste
é perceber que o país votou nas últimas eleições (estamos
falando do décimo quarto ano do século XXI) para a composição de
um poder legislativo conservador e tacanho, cujas principais bancadas
no Congresso Nacional estão ali apenas para defender interesses
próprios ou de grupos e empresas que contribuem honesta e
patrioticamente para a campanha dos eleitos, esses também em sua
maioria sem qualquer compromisso com a nação brasileira.
Triste
é perceber que a palavra “corrupção” perdeu todo e qualquer
significado no Brasil contemporâneo, uma vez que é usada e
banalizada por um conjunto de cidadãs ou cidadãos das mais variadas
profissões, credos religiosos, partidos políticos, apenas para
tentarem desclassificar adversários políticos, já que ela é
praticada em maior ou menor escala no país há dezenas de anos desde
a compra de falsas carteirinhas de estudante ou do guarda de transito
na esquina, até depósitos de milhões de dólares em paraísos
fiscais, seja na conta de um diretor de empresa estatal ou em
sonegação de impostos.
Um
país de dimensões continentais como o nosso e de imensa riqueza
seja ela natural ou aquela construída pelas mãos de milhões de
trabalhadores com o passar dos séculos, até agora, repito, início
do século XXI, ainda não conseguiu se libertar do espírito
predador de nossos descobridores e colonizadores e muito menos do
selvagem uso da chibata e do vil garrote, eterno garante das leis no
Brasil. E garante também de uma cultura de submissão.
E
assim, aculturados que somos, vivemos, sobretudo nossas chamadas
elites, seja lá o significado que isso tenha, entre ditaduras
explícitas e simulacros de democracia, num jogo de faz de conta
vergonhoso, onde a luta de classes é varrida para debaixo do mesmo
tapete onde há dezenas de anos apodrecem algumas das maiores
maracutaias econômicas, políticas e sociais.
E
são exatamente os responsáveis diretos por tais maracutaias que
hoje incentivam as ruas desmemoriadas a pedir intervenção militar
para “moralizar” o Brasil e acabarem com a corrupção, mas de um
único partido, numa demonstração acachapante de ignorância
histórica, pobreza cultural, má fé e oportunismo político. O
recente exemplo da senadora Marta Suplicy com sua ressentida defecção
diz muito sobre a matéria e a tal elite. Shakespeare já tratou do
assunto com grande sensibilidade há quase quinhentos anos.
O
recente e selvagem espetáculo dado por um governador ignorante, no
estado do Paraná, amparado ou mesmo incentivador – talvez – dos
desmandos e armadilhas judiciárias e policialescas que ali
surpreendem o país no dia a dia, fazem vir à tona o que de mais
retrógrado e covarde pode produzir os que nada têm a oferecer à
sociedade brasileira senão a cantilena sobre a corrupção alheia,
quando a sua escondem nas páginas dos jornais e ficções
televisivas, acobertadas que são pelas mentiras, pelas intrigas e,
se necessário, por cassetetes, jatos d’água e balas (por
enquanto) de borracha.
Em
Curitiba surgiu e se consagrou de fato o símbolo da direita
brasileira, o pitbull, sucessor do pastor alemão dos anos 30 em
Berlim. As fotos e vídeos que o novo e principal partido da direita
tentou esconder do país, o silêncio de seus principais dirigentes
ou, o que é pior, o apoio implícito de alguns deles às cenas de
selvageria contra professores estaduais, coloca em alerta o Brasil,
fazendo renascer na América do Sul as sinistras imagens de alguns
mortos vivos.
Afinal
quando irão botar fogo no Reichstag e colocar a culpa no Partido dos
Trabalhadores? Nos negros, nos nordestinos, nos judeus? Estamos quase
lá.
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