segunda-feira, 16 de junho de 2014

Nossa elite não tem Fair Play

Por Fernando Castilho


Ao assistir pela TV a abertura da Copa do Mundo do Brasil, o que me chamou a atenção de imediato foram os elementos estilizados que homenageavam a natureza, o povo brasileiro e o futebol. Mais aqui

Um espetáculo limpo, simples, com um colorido às vezes em tom pastel, às vezes numa combinação de lilás e verde musgo. Com classe.

Todos os elementos se movimentavam pelo campo, dando de cima uma impressão de movimento, rítmo e cores bastante interessante.

Os bailarinos, todos sorridentes, demonstravam a alegria de ser brasileiro e de estar ali naquele momento que se repetiu após 64 anos.

A empresa contratada pela FIFA (sim, foi inteiramente responsabilidade da FIFA) para organizar as festas foi a Team Spirit, que contratou Franco Dragone, que foi diretor artístico do Cirque du Soleil por cinco anos. Leia mais aqui

O espírito da festa de abertura foi definido pelo diretor contratado para isso – no caso do Brasil: Franco Dragone – e por quem fez a coreografia. A coreógrafa da abertura da Copa no Brasil foi a belga Daphné Cornez, que está recebendo críticas grosseiras de quem não tem capacidade de criticar espetáculo nenhum de dança, simplesmente por não ter o hábito de frequentá-los.

Eles analisaram as condições do local onde seria feito o evento. A abertura é feita no estádio onde menos de uma hora depois vai acontecer o jogo de abertura do evento.

Assim, a coreografia que vimos foi realizada sobre uma lona especial que permite a respiração do gramado. Como a lona é a única proteção, não é possível que elementos muito pesados adentrem o gramado. Por si só, esse já é um elemento bastante limitador.

Mas essa parte do espetáculo foi a que considerei especialmente bonita.

Quem não gostou?
Ora, muita gente já tinha o espírito preparado para detestar a abertura. Misturando política com esporte e falta de patriotismo e muito vira-latismo, qualquer que fosse o espetáculo, bonito ou feio, pobre ou rico, seria vaiado.

Gente que, apesar de ter dinheiro para viajar e conhecer museus da Europa, prefere fazer compras em Miami, ou marcar presença nos hotéis de Cancun, ou ainda, jogar dinheiro fora em Las Vegas. Onde está a finesse?

Gente insensível à arte, que compra quadros caros só para mostrar que pode, mas que é incapaz de apreciá-los. Onde está o glamour?

Gente que foi preparada meses a fio pela grande mídia, que ocultou o quanto pôde o fato de que a responsabilidade do evento seria da FIFA, e que, por ser simples, não poderia ser um megaevento com carros alegóricos, fogos de artifício e explosões como nos filmes de Hollywood. Aliás, se fosse, isso também seria motivo de crítica pelo enorme gasto desnecessário num país sem saúde, educação, bla, blá, blá, etc. e tal.

E a mídia continua a cumprir seu papel de desinformar, criticando o espetáculo a todo momento, para que no imaginário popular mais desavisado se calcifique como responsável, o Governo. Lógico, precisa baixar os índices de Dilma nas pesquisas.

A segunda parte do espetáculo foi a música da Copa ''We are one'', interpretada com playback pelo trio Pitbull, Jennifer Lopez e Cláudia Leite, esta, segundo Faustão, a única coisa que prestou na festa. Por que? Ninguém sabe. Talvez por medo de falar na frente dela, que detestou tudo. Hipocrisia bastante natural, partindo de um hipócrita.


Desse parte do espetáculo realmente não gostei. Música chata, que em nada lembra outras que caíram no gosto popular, como aquela dos ''noventa milhões em ação'', da Copa de 70 (embora nos remeta a terríveis lembranças também) .

Mas, mais uma vez, o espetáculo foi contratado pela FIFA, inclusive a música e os cantores.

A terceira parte (que praticamente não exisitiu, ninguém sabe, ninguém viu...) apresentou o exoesqueleto do Projeto Andar de Novo, do neurocientista Miguel Nicolelis.

Embora o projeto tenda a evoluir cada vez mais, podendo vir a se tornar uma revolução na mobilidade daqueles que a perderam, sua apresentação pela TV durou exatos 7 segundos!


Quase ninguém percebeu o chute inicial dado pelo paraplégico Juliano Pinto. Há meses que o projeto vinha sido ignorado pela grande mídia, numa demonstração de sua intenção clara de escondê-lo da população, talvez por ser Nicolelis um amigo de Lula e simpatizante do PT. E foi escondido tembém na festa de abertura. E mais, agora colunistas como Reinaldo Azevedo da Veja e Diogo Mainardi do Manhattan Connection, da Globo, tentam desqualificar Nicolelis, como se eles tivessem algum tipo de qualificação.

A TV Globo preferiu mostrar a chegada do ônibus dos jogadores do Brasil, para ela, bem mais interessante que o invento de Nicolelis. Não quer dar ponto pra ninguém. Faz parte da campanha.

25 minutos. Foi quanto durou o espetáculo padrão FIFA.

Mais tarde, outros atores, aparentemente de improviso, mas só que não, protagonizaram o espetáculo mais deprimente do dia.
Ao xingarem com palavrões a Presidenta Dilma Rousseff, ''torcedores'' da chamada ala VIP, que pagaram cerca de 1000 reais pelo ingresso (alguns foram beneficiados com a cortesia) demonstraram a educação que receberam, não nos colégios públicos, mas em caras escolas particulares.

VIPs que vivem descendo a lenha no Brasil por seu povo não ter a mesma educação requintada dos europeus e americanos.

VIPs que criticaram o governo por trazer a Copa para o Brasil. Que apostaram no fracasso até o último momento. Que duvidaram que os estádios ficassem prontos. Que desejavam o tempo todo que alguma coisa desse errada. 

Para desencanto deles, a Arena Corínthians e os outros são estádios de primeiro mundo.

Com sua atitude demonstraram ao mundo como é a educação da elite do Brasil, não a do seu povo.









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