Após
a análise do governo Alckmin nas áreas de distribuição de água e
transporte público, fui surpreendido com a nova pesquisa Datafolha
que atribui ao governador 44% das intenções de voto para sua
reeleição em outubro.
Surpreendido
porque, apesar de saber que há uma forte blindagem dos meios de
comunicação sobre ele, a opinião do povo paulista é a que conta
nessa hora. E essa opinião, por incrível que pareça, lhe é
favorável.
Um
povo quase sem água, com rede de metrô insuficiente (e sob investigação),
sem segurança pública...
Nessa 3ª série, vamos falar sobre exatamente isso, a segurança
pública no Estado de São Paulo
SEGURANÇA PÚBLICA
Uma
das maiores críticas que o governo federal vem sofrendo é quanto à
segurança pública.
Pode
ver, reclama-se de tudo, mas o mais grave problema é o da falta de
segurança. Sair de casa, principalmente nos grandes centros urbanos,
pressupõe atenção ligada o tempo todo para não ser assaltado.
Mas
a responsabilidade, longe de ser da Presidente da República, é do Governador Geraldo Alckmin. É
ele o comandante maior da Polícia Militar do Estado.
Segundo
José Eduardo Azevedo - Mestre em Ciências Políticas pela UNICAMP,
''essa
corporeidade – a polícia – torna-se a dimensão fantasmagórica
do poder disciplinar, como estrutura formal de dominação política,
operando em espaço liso, zelando pela governamentalização do
Estado contra inimigos de rosticidades diversas, com táticas e
estratégias de uma guerra infindável. Na sua dimensão de fluxo
contínuo como rede maleável que se distancia das instâncias do
poder de Estado, atuando em centros urbanos, bairros populares e
arrabaldes, situa-se entre o Estado e a justiça como a “ordem
primeira da repressão”, poder absoluto e soberano, deidade secular
que profere o julgamento final de destinação de corpos e almas. '' Leia mais aqui
A
Polícia Militar do Estado de São Paulo para fins de organização é
uma força auxiliar e reserva do Exército Brasileiro. Conta com um
efetivo de 100 mil soldados.
Os
abusos e a ineficiência desta instituição saltam aos olhos da
sociedade civil. É acusada de repressão a movimentos políticos
contrários aos interesses do governo do Estado, falsificação de
evidências para incriminar tais movimentos, corrupção, repressão
violenta às populações da periferia, torturas e assassinatos.
Essas acusações são parcialmente confirmadas pela própria
corregedoria, mas é difícil definir a extensão deste problema,
devido à própria proeminência desta instituição no cenário
político e investigativo do Estado.
A
corporação foi acusada de matar mais do que todas as polícias dos
Estados Unidos juntas, e envolveu-se em conflitos repudiados por
grandes parcelas da população e importantes autoridades, como as
repressões à marcha da maconha, aos protestos de camelôs, ao
protesto contra o aumento do preço de ônibus na capital paulista, à
reintegração de posse do Pinheirinho e uma reintegração de posse
na Universidade de São Paulo.
Um
relatório da polícia civil de 2011 estimou que PMs foram
responsáveis por pelo menos 150 assassinatos. Os motivos seriam
vingança, ''limpeza'' e abuso de autoridade.
A
intensificação da prática de tortura e da violência nas
instituições policiais é uma herança da ditadura militar.
Atuando
em paralelo com a Polícia Militar, existe outra, a Polícia Civil do
Estado de São Paulo. Ela é a Polícia Judiciária do estado de São
Paulo, Brasil, órgão do sistema de segurança pública ao qual
compete, as atividades de polícia judiciária e de apuração
(investigação) das infrações penais.
Estima-se
que 95% dos crimes ficam impunes em São Paulo. A ineficiência no
esclarecimento de crimes pode ser ainda maior, considerando que 70%
dos crimes não são denunciados. Menos de 6% dos boletins de
ocorrência lavrados pela Polícia Militar se revertem em Inquéritos
Policiais.
A
existência de duas polícias com competências exclusivas e por
vezes conflitantes é um dos principais problemas apontados pelos
críticos em matéria de segurança pública. Aliás, muitos
indicadores mostram que a militarização da polícia não favorece
uma sociedade mais segura.
Segundo
Guaracy Mingardi doutor em ciência política pela USP, ex-secretário
de Segurança Pública de Guarulhos e subsecretário nacional de
Segurança Pública ''o ponto zero é que Estado, governantes, o
Congresso, precisam se preocupar com o problema, não apenas em
períodos de crise. A municipalização da polícia é uma das
possibilidades. A outra é unificar as polícias, outra ainda é a
desmilitarização. O importante é a gente mexer em alguma coisa, ao
menos melhorar o sistema que está aí. É preciso tomar decisões.
Não pode ficar como está.'' Entrevista completa aqui
Ainda
segundo Guaracy Mingardi ''A polícia é quem detém o monopólio da
violência do Estado. A questão é como ela encarna isso. O que
acontece no Brasil é que a polícia, muitas vezes, vê a violência
como algo que resolve tudo. É um absurdo o tanto que a nossa polícia
mata. A polícia não foi feita para negociar. Então, quando se
envia a polícia para uma situação, é preciso dar instruções
claras sobre o que deve ser feito. E nós nunca nos preocupamos com
isso. Existem dois aspectos do trabalho policial: a manutenção da
ordem e a atuação contra o crime. A nossa polícia tem muito mais a
ver com o controle da ordem do que com o controle do crime.''
A
Polícia Civil do Estado de São Paulo dispõe de 40.663 integrantes.
Se somarmos os efetivos das duas polícias, teremos um total de cerca
de 140 mil homens, com média de cerca de 3,5 policiais por cada
grupo de 1000 pessoas.
E
São Paulo está em guerra. E não é uma guerra entre polícia e
bandido, o bem contra o mal, tudo colocado de maneira maniqueísta.
O
PCC controla farmácias, transportadoras, supermercados, postos de
gasolina e distribuidoras de combustível. O ciclo completo de
negócios que permite acesso a insumos para os laboratórios de
refino de cocaína, desova e distribuição de cargas e drogas e
lavagem de dinheiro, mas a polícia está metida também nesse
negócio. Maus policiais dão cobertura a essas ações.
''Durante
muito tempo a Polícia Civil foi proibida de sequer mencionar o PCC,
quanto mais investigar. O ex-secretário de segurança pública
(Antônio Ferreira Pinto, que deixou o cargo em 2012) não queria a
Polícia Civil envolvida e colocou a Rota para investigar isso. Isso
tem a ver com uma política de governo que vem desde 2006, de
esconder a cabeça na areia, fingir que o PCC não existe e fazer
discurso de que o PCC é uma coisa de 40 pessoas na cadeia'', diz
Mingardi.
Em
27 de fevereiro de 2014, parte da imprensa deu detalhes de um plano
de fuga de quatro líderes do PCC. Entre eles, seu princípal chefe,
o Marcola. Bandidos treinados para pilotar helicópteros iriam fazer
o resgate. A história veio a público graças ao vazamento de uma
investigação das polícias Civil e Militar e do Ministério Público
de São Paulo.
Segundo
notícia da Folha de S. Paulo do dia 12 de março, Márcio Geraldo
Alves Ferreira, o Buda, um dos principais articuladores do plano,
foi, no dia 12 de janeiro, levado para a 73º DP, no Jaçanã, zona
norte da capital, por estar com documentos falsos. Na época já se
investigava a fuga e a sua participação, mas ele foi liberado.
Ainda
assim, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) repetiu o discurso de que
"São Paulo não se intimida", seu surrado bordão.
Minimizou a força do PCC e enfatizou a qualidade da polícia. E
setores da mídia potencializaram tanto o espetacular plano de fuga
quanto a inteligência dos órgãos de segurança pública do Estado.
Ou
seja, para Geraldo Alckmin, o PCC é importante enquanto instrumento
para sua promoção pessoal, mas, mais do que isso, a postura da
gestão tucana aponta uma tentativa de conciliação com o PCC. "Tem
toda uma sensação de combate efetiva, mas, do outro lado, tem uma
ação de manter o acordo feito em 2006, de manter a acomodação
para que não ocorra uma ruptura generalizada em todo o sistema",
avalia a socióloga Camila Nunes Dias, autora do livro A história
secreta do PCC.
Em
decorrência da violência policial nas últimas manifestações,
várias pessoas estão pedindo a desmilitarização da polícia.
Porém, para que ela seja inteiramente civil, é preciso apresentar,
votar e aprovar uma emenda à atual Constituição.
Para
Mingardi, ''mesmo que consiga desmilitarizar, não significa que a
estrutura vai mudar. Para acabar com essa estrutura tem que, em
primeiro lugar, acabar com a IGPM (Inspetoria Geral das Polícias
Militares), que foi criada pela ditadura e que vincula a polícia ao
Exército. Polícia não tinha que ter nada a ver com o Exército,
ela deveria responder ao Ministério da Justiça. Em segundo lugar,
tem que acabar com a Justiça Militar Estadual, que é quem julga o
policial militar. Todo mundo tem que ser julgado da mesma forma. A
terceira coisa é o código disciplinar, que precisar ser modificado
de cabo a rabo.''
De
qualquer forma, fica clara mais uma omissão de Geraldo Alckmin
nesses 15 anos à frente do Palácio Bandeirantes.
As
pessoas vão continuar a ser assaltadas ou assassinadas, a população
da periferia vai continuar a ser explorada pelos traficantes e pela
própria polícia, o PCC vai continuar mandando no crime organizado,
as manifestações e as graves vão continuar sendo reprimidas com
cacete, e nada vai mudar. Porque mudança requer atitude.
E
atitude Geraldo não tem.
Mas
como dizer agora: Pede pra sair, Alckmin, se o paulista quer que ele
continue?
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