segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Muito ódio, pouca memória

Por Fernando Castilho


Folha de São Paulo
Bem, o primeiro turno acabou.

E o que percebemos em 5 de outubro?
O Estado de São Paulo é onde a direita mais reacionária se instalou. Não importa que esteja sem água, que esteja perdendo a USP, que não tenha segurança, saúde ou habitação, que esteja sem metrô...

Geraldo Alckmin venceu com um número de votos tão grande que até parece que ele tem sido realmente um grande governador. Fará seu próximo mandato sem fazer nada, como até agora. E saírá daqui há quatro anos dando risadas, fazendo bazófia do povo paulista.

Aliás, logo mais anunciará o racionamento da água...


José Serra, com 8 processos nas costas, se elegeu senador, afastando Eduardo Suplicy, político nota dez, ficha limpa.

São Paulo elegeu também o que de pior há para a Câmara dos Deputados: Russomano, Tiririca, Feliciano, e por aí vai. 

Os bem amados dos paulistas
No Estado, também Aécio venceu Dilma, demonstrando que para o paulista não basta sofrer com a falta de governador, tem que sofrer também com o presidente.

O gigante que acordou em junho de 2013 não acordou no dia 5 de outubro. Tivesse acordado, não elegeria os nomes supra citados...Isso, sem falar em Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro e Álvaro Dias para o Senado no Paraná.

Minas Gerais elegeu Fernando Pimentel do PT, pondo fim ao governo do PSDB, além de cravar Dilma à frente de Aécio.

Na Bahia Ruy Costa do PT venceu Paulo Solto do DEM, mais um estado perdido pelos irmãos PSDB e DEM.

Outra coisa a se analisar são os resultados díspares com as pesquisas. Todas elas, inclusive os trackings dos partidos erraram e feio. Os institutos de pesquisa, Ibope, Datafolha e Vox Populi, durante toda a campanha manipularam números ao sabor de seu projeto para o PSDB. Os trackings também se mostraram não confiáveis ao mostrar os candidatos dos partidos que os realizaram, bem colocados nas pesquisas.

Normalmente o que se espera no dia da eleição é uma atitude um pouco mais consciente do que em dia de pesquisa. É quando os eleitores pensam um pouco mais sério nas consequências de um voto errado. Imaginava o blogueiro que a grande maioria da população, beneficiada que foi com o governo Dilma, temesse um retrocesso garantindo o voto na petista. Lêdo engano. Isso aconteceu somente em parte.

O fenômeno Marina Silva afinal, foi reduzido praticamente ao seu tamanho de 2010, em que pese todo empenho da mídia em inflá-la logo após a morte de Eduardo Campos.

Mas, como o blogueiro publicou em 3 de setembro, o plano A da mídia sempre foi Aécio 
Leia aqui . É com ele que as benesses lhes serão garantidas. Num perfeito acordo de cavalheiros, tudo se passou da mesma forma que se passa com as empreiteiras que fazem doações para as campanhas: A grande mídia bateu muito no governo, poupou os tucanos ao máximo, e espera agora que com sua eleição, Aécio lhes devolva em dobro, seja com ajuda do BNDS, seja com a negação em enviar ao Congresso um projeto de regulação da mídia.

E para o segundo turno, o que esperar?
Aécio teve votação expressiva. Se conseguir apoio de Marina Silva, pode crescer ainda mais. A ex-senadora oficializará seu apoio?
Há a possibilidade real disso acontecer, movida que é pelo seu ódio principalmente à Dilma. Aliás, no calor das apurações, ela já sinalizou isso.

Mas vejam que ela, na visão de seus seguidores, já extrapolou demais as fronteiras da nova política. Na opinião do blogueiro, se ela der um tempo para refletir e tiver um pouco de juízo, é mais provável que faça como em 2010, liberando o voto de seus eleitores, tentando preservar o pouco que resta de sua imagem e se dedicando à construção de seu partido, a Rede Sustentabilidade.

E o PSB?
O partido é aliado histórico do PT. Se Roberto Amaral, seu presidente, fizer valer o bom senso, fará com que o partido apóie Dilma, já que poderá obter participação no próximo governo. Do contrário, muita gente irá para um ostracismo perigoso para quem vive de política. Já pensaram o vice de Marina, Beto Albuquerque, aguentar quatro anos fora da política?

Como será a campanha?
Pelo lado de Dilma podemos esperar grande empenho da militância, seu ponto forte, tanto nas redes sociais, quanto nas ruas e comícios. Dilma deverá deixar de lado as respostas técnicas à Aécio, e partir para cobrar-lhe seu programa de governo e suas propostas, que até agora não apareceram.

Pelo lado de Aécio, pode-se esperar ataques diários à Dilma por parte da imprensa, sua grande e única militância. O episódio Paulo Roberto Costa e a Petrobrás, previsto para sumir caso Dilma vencesse o primeiro turno, será requentado todos os dias, e não sairá das manchetes. Pode aparecer ainda mais algum factóide como o dos Correios, ou algo pior, que já deve estar sendo engendrado. 

Sobre o Aécioporto, esqueçam. O assunto já foi encerrado, só Dilma deverá falar nisso.
Sobre trensalão, propinoduto, mensalão do PSDB, podem tirar o cavalo da chuva porque nada disso será noticiado.

Esta eleição será mais acirrada que em 2010. Naquele ano, a grande mídia não tinha preparado tanto o espírito dos brasileiros para sentirem tanto ódio no PT como agora.
O ódio foi tão insuflado, que os paulistas, mesmo talvez sabendo o preço que pagarão nos próximos quatro anos, elegeram Alckmin e Serra só para vencer o Partido.dos Trabalhadores.


Nenhum comentário:

Postar um comentário