Há muitos anos atrás, quando o blogueiro trabalhava em urbanização de favelas, era comum quase todos os domingos, ter de largar um almoço em família ou um churrasco, para se deslocar a alguma favela.
Era
apenas aos domingos que as famílias das comunidades tinham tempo de
participar de assembleias onde seriam discutidos os projetos que as
beneficiariam, e posterior deliberação sobre os mesmos. Poderiam
ser aprovados ou não pela comunidade. As escolas onde eram feitas as
assembleias ficavam lotadas, demonstrando o interesse das famílias
em mudar suas vidas para melhor. Era isso que empolgava o blogueiro.
Meus
parentes não tinham compreensão do por quê dessa minha atitude,
uma vez que não rendia hora extra, e nem mesmo a gasolina me era
reembolsada para o trabalho.
Mas
lá ia eu, não sem antes ser motivo de chacotas por fazer algo que
eles jamais fariam. (continue a ler...)
Era
preconceito, mas o blogueiro levava numa boa. Afinal, parentes são
pessoas que você não escolheu para o seu rol de relacionamentos.
Eles existem, tem que ser tolerados, e fim.
O
tempo passou, e eis-me aqui escrevendo no blog, 5 dias após o
segundo turno das eleições.
Lá
se vão 16 anos desde que mudei de atividade, e as coisas agora já
não são as mesmas.
O
PT está há 12 anos no poder, inúmeras favelas já foram
urbanizadas e as famílias que moram nas comunidades não se parecem
em nada com as daquela época.
Fruto
de um trabalho desempenhado por Lula e por Dilma, a classe pobre
agora se aproxima da classe média, tem maior poder aquisitivo,
conquistou muita coisa mas quer mais. É natural.
Porém,
assim como o tempo passou, as chacotas também evoluíram. Não
contra o blogueiro, mas contra esse povo, que, via de regra, tem
origem nordestina (por parte de pais ou avós), e é preto.
Vimos
o que aconteceu quando dos rolezinhos. Jovens pretos vestindo
camisetas, bonés, bermudas e tênis de marca resolveram, em grupos,
frequentar shoppings centers, sendo hostilizados pela classe média e
pelos endinheirados, muitos deles, endividados até o pescoço.
Essa
classe média, adepta da meritocracia (somente para os outros), que
quer cadeia para os corruptos (somente os outros), que prefere ficar
sem água e segurança do que votar no PT para o governo de São
Paulo, que prefere um déspota mentiroso, drogado (evitei falar isso
durante toda a campanha, mas é verdade), nepótico, cínico e
violento para governar o país, agora, em plena era do politicamente
correto, resolve destilar o mais insano ódio contra nortistas,
nordestinos e pretos.
Como
no título do filme ''Eu sei o que vocês fizeram no varão
passado'', eu sei o que muitos eram há pouco mais de uma década.
Malhavam em ferro frio para conseguir alguma coisa na vida. As
condições para uma melhora de vida lhes começaram a ser dadas
justamente após o primeiro governo Lula, quando houve estabilidade
econômica, emprego, crescimento e aumento do salário mínimo acima
da inflação. Foi a partir daí que os carros começaram a ficar
mais chiques, as tv's aumentaram muito de tamanho e as viagens ao
exterior começaram a ficar anuais.
Mas
essa gente segue o que recomendava Aécio à Dilma durante os
debates, quando dizia ''candidata, não olhe para o retrovisor''. Não
olham mesmo. Reconhecem-se a si mesmos como se fossem classe média
desde todo o sempre.
Marilena Chauí já havia alertado sobre os fascismo crescente na classe média. Amplamente divulgado nas redes sociais, o discurso de Chauí soou para a classe média como aquela pessoa que a critica pela maquiagem mal feita. Ao invés de se olhar no espelho e refazer a maquiagem, soberbamente passa a xingar quem a criticou.
Agora,
findas as eleições, não reconhecem o processo democrático. Dizem
que estamos numa ditadura (em que até a presidenta foi xingada,
imaginem se fosse o Médici), mas querem uma de fato, como a que já
tivemos.
Querem
impeachment de Dilma, usando como pretexto, e é pretexto mesmo, a
matéria inventada por Veja às vésperas do segundo turno, já
desmentida pelo advogado do doleiro.
Querem
a separação do Estado de São Paulo da União. Esquecem-se de que
há uma Constituição no país, além do que o Estado saíria
perdendo.
E
a cereja do bolo:
FHC
antes das eleições desqualificou os pobres e nordestinos como sendo desinformados. Com sua
atitude, irresponsavelmente, insuflou o ódio de classes no Brasil.
Agora,
o PSDB pede auditoria das votações ao TSE, baseado nas denúncias
fake que tucanos publicaram na internet. Com essa atitude
irresponsável, coloca gasolina na fogueira.
Distância
dessa gente.
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