sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A classe média não vai ao paraíso

Por Fernando Castilho

Há muitos anos atrás, quando o blogueiro trabalhava em urbanização de favelas, era comum quase todos os domingos, ter de largar um almoço em família ou um churrasco, para se deslocar a alguma favela.

Era apenas aos domingos que as famílias das comunidades tinham tempo de participar de assembleias onde seriam discutidos os projetos que as beneficiariam, e posterior deliberação sobre os mesmos. Poderiam ser aprovados ou não pela comunidade. As escolas onde eram feitas as assembleias ficavam lotadas, demonstrando o interesse das famílias em mudar suas vidas para melhor. Era isso que empolgava o blogueiro.

Meus parentes não tinham compreensão do por quê dessa minha atitude, uma vez que não rendia hora extra, e nem mesmo a gasolina me era reembolsada para o trabalho.
Mas lá ia eu, não sem antes ser motivo de chacotas por fazer algo que eles jamais fariam. (continue a ler...)


Era preconceito, mas o blogueiro levava numa boa. Afinal, parentes são pessoas que você não escolheu para o seu rol de relacionamentos. Eles existem, tem que ser tolerados, e fim.

O tempo passou, e eis-me aqui escrevendo no blog, 5 dias após o segundo turno das eleições.

Lá se vão 16 anos desde que mudei de atividade, e as coisas agora já não são as mesmas.

O PT está há 12 anos no poder, inúmeras favelas já foram urbanizadas e as famílias que moram nas comunidades não se parecem em nada com as daquela época.
Fruto de um trabalho desempenhado por Lula e por Dilma, a classe pobre agora se aproxima da classe média, tem maior poder aquisitivo, conquistou muita coisa mas quer mais. É natural.

Porém, assim como o tempo passou, as chacotas também evoluíram. Não contra o blogueiro, mas contra esse povo, que, via de regra, tem origem nordestina (por parte de pais ou avós), e é preto.

Vimos o que aconteceu quando dos rolezinhos. Jovens pretos vestindo camisetas, bonés, bermudas e tênis de marca resolveram, em grupos, frequentar shoppings centers, sendo hostilizados pela classe média e pelos endinheirados, muitos deles, endividados até o pescoço.

Essa classe média, adepta da meritocracia (somente para os outros), que quer cadeia para os corruptos (somente os outros), que prefere ficar sem água e segurança do que votar no PT para o governo de São Paulo, que prefere um déspota mentiroso, drogado (evitei falar isso durante toda a campanha, mas é verdade), nepótico, cínico e violento para governar o país, agora, em plena era do politicamente correto, resolve destilar o mais insano ódio contra nortistas, nordestinos e pretos.

Como no título do filme ''Eu sei o que vocês fizeram no varão passado'', eu sei o que muitos eram há pouco mais de uma década. Malhavam em ferro frio para conseguir alguma coisa na vida. As condições para uma melhora de vida lhes começaram a ser dadas justamente após o primeiro governo Lula, quando houve estabilidade econômica, emprego, crescimento e aumento do salário mínimo acima da inflação. Foi a partir daí que os carros começaram a ficar mais chiques, as tv's aumentaram muito de tamanho e as viagens ao exterior começaram a ficar anuais.

Mas essa gente segue o que recomendava Aécio à Dilma durante os debates, quando dizia ''candidata, não olhe para o retrovisor''. Não olham mesmo. Reconhecem-se a si mesmos como se fossem classe média desde todo o sempre.

Marilena Chauí já havia alertado sobre os fascismo crescente na classe média. Amplamente divulgado nas redes sociais, o discurso de Chauí soou para a classe média como aquela pessoa que a critica pela maquiagem mal feita. Ao invés de se olhar no espelho e refazer a maquiagem, soberbamente passa a xingar quem a criticou.

Agora, findas as eleições, não reconhecem o processo democrático. Dizem que estamos numa ditadura (em que até a presidenta foi xingada, imaginem se fosse o Médici), mas querem uma de fato, como a que já tivemos.

Querem impeachment de Dilma, usando como pretexto, e é pretexto mesmo, a matéria inventada por Veja às vésperas do segundo turno, já desmentida pelo advogado do doleiro.

Querem a separação do Estado de São Paulo da União. Esquecem-se de que há uma Constituição no país, além do que o Estado saíria perdendo.

E a cereja do bolo:
FHC antes das eleições desqualificou os pobres e nordestinos como sendo desinformados. Com sua atitude, irresponsavelmente, insuflou o ódio de classes no Brasil.

Agora, o PSDB pede auditoria das votações ao TSE, baseado nas denúncias fake que tucanos publicaram na internet. Com essa atitude irresponsável, coloca gasolina na fogueira.

Distância dessa gente.





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