Por Fernando Castilho
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Assunto
espinhoso de se tratar, afinal segundo dizem, política, futebol e
religião não se discutem. Se discutem sim, mas não é exatamente a religião que o
blogueiro se dispõe a discutir, mas sim alguns relacionamentos dela
com a política.
Enquanto
escrevo este texto, não tenho o número exato de palestinos mortos
pelos ataques do exército israelense à faixa de Gaza. Ninguém tem.
Estima-se, porém, que já chegue a cerca de 2000 pessoas, das quais
400 crianças...
E muita gente tem opinião formada sobre o assunto, tendo como fonte exclusiva a grande mídia, inteiramente do lado de Israel.
Uol |
Em
que pese reconhecer a existência do Hamas, grupo palestino que usa
de violência para lutar pela libertação de seu povo, é certo que
o poderoso exército de Israel, e seu eficiente escritório de
inteligência, o Mossad, do mesmo modo que a CIA americana, tem
condição e poder para localizar e destruir seu inimigo assim que o
queira. Não quer.
Assim
como a manutenção da saúde perfeita de Osama Bin Laden durante
anos serviu aos propósitos de Washington para continuar a escalada
no combate ao terror, a existência do Hamas é útil a seu Primeiro
Ministro, Benjamin Netanyahu pois lhe dá o pretexto perfeito para
continuar a executar os ataques. Eliminado o Hamas, não há como
justificar a matança perante o mundo.
O
que Israel pretende com seus ataques periódicos é cada vez mais
avançar sobre o território palestino, expulsando de lá seus
moradores e colonizando a área com ''judeus''. As aspas tem razão
de existir como se verá logo mais. Um dia pretende-se que não haja
mais nenhum palestino sobre aquela área.
Embora
haja quem negue, a situação é de genocídio mesmo. E o motivo não é religioso.
Pois
bem, a grande mídia, seja estrangeira, seja tupiniquim, está toda
do lado de Israel. Basta ler os jornais. E
entende-se isto, uma vez que os Estados Unidos são aliados
históricos daquele país, a poderosa indústria do entretenimento
está quase toda nas mãos de judeus, etc. e tal.
O
que quase não é possível compreender, pelo menos para este que
escreve, é a posição de apoio da maior parte das denominações
evangélicas.
Para
afirmar que esse apoio é uma contradição, temos que regredir a um
tempo retratado na Bíblia, quando Javé afirmou que o povo judeu era
o seu escolhido, portanto, que se respeite a vontade do Senhor.
Mas
será que isso procede? Vejamos.
Jesus
chamava Deus de Pai, aliás, mais que isso, Abba, que em aramaico
significa ''paizinho'' ou ''papai''. A prosseguir com o significado
dessa palavra tão carinhosa, ao menos para nós, fica claro que aos
olhos dos papais humanos, os filhos, mesmo apresentando diferenças
entre si, são todos iguais, não havendo o predileto. Se houver o
filho predileto, algo está errado com a família.
Aos
olhos de Deus que seria o ser perfeito, o papai perfeito, todos nós,
humanos, judeus, não judeus, brancos, negros, asiáticos,
homossexuais, etc., criados por Ele, teríamos que ser iguais, não se
admitindo que os judeus fossem o povo escolhido.
Mesmo
que se admitisse isso, segundo explicou o historiador israelita, Shlomo Sand, professor
de História da Europa na Universidade de Tel Aviv, que acaba de
publicar "Quando e como se inventou o povo judeu", os
atuais judeus provêm de povos pagãos que se converteram ao judaísmo
longe da Palestina, e portanto não vêm dos antigos judeus, e que os
palestinos árabes são os únicos descendentes dos antigos judeus.
Se
Sand estiver certo, e tudo indica que sim, o povo que se diz
israelense não é o povo escolhido por Deus, e sim o palestino!.
Shlomo Sand |
Mas,
além disso, o que move os cristãos para a tomada de posição em
favor dos israelenses?
Não
é justamente o povo judeu que nega a Jesus Cristo, como sendo o
filho de Deus?
O
que o Messias, esperado pelos judeus deveria atingir? A Torá diz que ele:
a
- Construirá o terceiro Templo Sagrado (Yechezkel 37:26-28)
b
- Levará todos os judeus de volta à Terra de Israel (Yeshayáhu
43:5-6).
c
- Introduzirá uma era de paz mundial, e terminará com o ódio,
opressão, sofrimento e doenças. Como está escrito: "Nação
não erguerá a espada contra nação, nem o homem aprenderá a
guerra." (Yeshayáhu 2:4).
d
- Divulgará o conhecimento universal sobre o Deus de Israel -
unificando toda a raça humana como uma só. Como está escrito:
"Deus reinará sobre todo o mundo - naquele dia, Deus será Um e
seu nome será Um" (Zecharyá 14:9).
O
fato histórico é que Jesus, para os judeus, não preencheu nenhuma
destas profecias messiânicas.
Além
disso, a ideia cristã da trindade quebra Deus em três seres
separados: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mateus 28:19), o que
contraria a ideia de Deus único, além da característica de
idolatria, abominada pelos judeus.
Não é o povo que entregou Jesus a Pôncio Pilatos para ser crucificado, somente por ter cometido o crime de desafiar o Sinédrio, o estado religioso?
Já
os palestinos, a maioria deles muçulmana, crê em Jesus como um
poderoso profeta, não o filho de Deus, mas aquele veio ao mundo
trazer as boas novas do reino do Céu, assim como Maomé, mais
recentemente. Sua opção por seguir Maomé se dá somente pelo fato
deste ser o último, o mais recente a trazer as boas novas.
Vejam
que nesse aspecto, os árabes são mais ''próximos'' de Jesus que os
judeus, porém ambos negam que o fundador do cristianismo tenha morrido na cruz, e mais, que tenha ressuscitado.
Mas
as contradições não param por aí.
Ao
definir sua posição a favor de Israel, essas denominações não
cumprem o mais sagrado dos ensinamentos de Jesus que é o de que
devemos amar nossos irmãos como a nós mesmos e como a Deus.
E
a cena que vimos recentemente quando da inauguração do Templo de
Salomão, da Igreja Universal? Os próceres da igreja, inclusive seu
fundador, Edir Macedo, paramentados com a indumentária dos
sacerdotes judeus, o ketonet e o kipá, em evidente proximidade com
estes.
Edir Macedo |
São
2000 pessoas mortas, dentre estas, 400 crianças... Isso certamente
não é um valor cristão.
Pataxó |
Fortaleza, 1.2.2019.
ResponderExcluirCaro Fernando Castilho,
Quem escreve estas poucas linhas é um judeu por conversão, que até a idade bastante adulta era um católico romano. Por que tomei tal decisão? Por ter questionado a concepção trinitária da divindade professada pela Igreja Católica. E mais ainda por considerar contrária à menor lógica uma concepção que constrói uma Trindade, e em seguida uma das Pessoas dessa Trindade determina que o Filho seja crucificado para que o pecado de Adão possa ser perdoado. E como pode "determinar" tal sacrifício, se o Filho é igual ao Pai, segundo o dogma cristão da Trindade? E se o Filho é tão Deus como o Pai, e portanto nenhum dos dois é maior que o outro, como explicar este suplício aplicado a uma das Pessoas Divinas pela outra Pessoa? Durma-se com um barulho desses. Concluindo, a verdadeira religião é o Judaísmo, sendo o Cristianismo e o Islamismo dois galhos da árvore eterna representada pela religião mosaica. Sds de Elisha ben Avraham.
Eu também já fiz essa mesma pergunta, isso não entra na minha cabeça.
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