sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Marinóquio

Por Fernando Castilho

Charge: Pataxó cartoons pataxocartoons.blogspot.jp


Neca.
Ouviram falar? Neca é Maria Alice Setúbal, coordenadora do programa de governo de Marina Silva pelo PSB/Rede.

Neca tem 63 anos e é uma das acionistas majoritárias do Itaú/Unibanco. Aquele mesmo que deve cerca de 18,7 bilhões de reais à Receita Federal por conta da incorporação do Unibanco.

Neca deu uma entrevista pra lá de reveladora ao jornalista Fernando Rodrigues da Folha de São Paulo.

Serve para traçar o novo perfil de Marina Silva, bastante diferente daquele de apenas alguns meses atrás...


Vale a pena destacar alguns trechos e analisá-los.
Segundo Neca, há lógica na substituição de Carlos Siqueira do PSB por Walter Feldman da Rede Sustentabilidade para ser o coordenador de campanha de Marina, uma vez que a campanha agora tem um novo CNPJ (sic).

Reparem que ao utilizar o termo CNPJ, a herdeira revela uma visão puramente mercantilista das coisas. E se é outro CNPJ, significa que a Rede assumiu o PSB, não?

Carlos Siqueira saiu brigado. Marina bateu o pé e exigiu Walter Feldman como coordenado de campanha, em detrimento dele.

Quem é Walter Feldman?
Um sonhático da Rede?

Não, de forma alguma. Feldman sempre foi tucano de alta plumagem. Foi fundador do PSDB, deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo e deputado federal. Seu nome está envolvido no escândalo de formação dos carteis para a compra de trens. Mais informações aqui

Ele não faz parte da nova política.
Ao ser indagada sobre restrições à contribuições de indústrias produtoras de armas, bebidas alcoólicas, agrotóxicos e tabaco impostas pela Rede, Neca diz que o que já entrou, entrou. Agora é zerar. Novamente diz que é outro CNPJ...

Essa história de zerar é pura enganação.
Seu vice Beto Albuquerque representa o lobby do agrotóxico e da indústria de armas. Tem ligações com a Monsanto. É claro que continuará a receber doações. Ninguém ficará sabendo mesmo. Leia mais aqui

Sobre questões como descriminalização da maconha e aborto, Neca disse que a Rede não se pronunciará quanto a isso.

Mas não era de se esperar que justamente esses assuntos fossem tema de discussão e de políticas? Afinal, pelo que se sabe, já há na Rede discussão acumulada sobre estes temas.

Neca reafirmou o que Eduardo Campos havia dito com relação a trazer a meta de inflação para o centro, para 4,5 % nos próximos 4 anos.

Campos quando prometeu essa meta, já deveria ter mais ou menos claro que não venceria as eleições. Quando entrou na disputa, entrou para ganhar, tanto é que levou Marina Silva para ser sua vice. Como ao longo de meses sua candidatura não decolou, passou a investir na divulgação de sua imagem para o futuro, para 2018 quando já se tornaria mais conhecido.

Portanto essa meta de 4,5 % era mais pra inglês ver.
Fernando Rodrigues em nova pergunta, afirma que economistas ortodoxos e do governo concordam que para reduzir a meta a esse nível, seria necessário aumentar juros e produzir desemprego no país.

Neca ao responder, tenta achar uma fórmula mágica, mas não encontra. Fala em desenvolvimento sustentável como se isso influísse alguma coisa nesse tema.

Matematicamente não há como reduzir a inflação a esse nível e manter taxas de juros e níveis de emprego. Muito menos manter programas sociais. A relação matemática nesse caso é inversamente proporcional. Abaixa-se a inflação e aumenta-se o desemprego. Não há como fugir disso.

Neca propõe a autonomia do Banco Central.
Arrepios!

Se Marina der autonomia ao Banco Central, adivinhem quem vai controlá-lo?
Os bancos, obviamente.

Os bancos, ao contrário das empresas comuns, podem recorrer a um emprestador de última instância, que lhes dá cobertura. É o Banco Central, a quem, como vimos, a sociedade concede a especialíssima prerrogativa de fabricar dinheiro. Já pensou se os bancos puderem dar as cartas no Banco Central?

Neca quer colocar a raposa para tomar conta do galinheiro.

Neca afirma que o mercado ao ver as pessoas que estão do lado de Marina, passarão a ter mais segurança nela. Economistas neoliberais como Eduardo Gianetti e André Lara Rezende, entre outros.
Ou seja, o perfil que Neca quer dar a Marina é um perfil neoliberal, confiável ao mercado. Mas também confiável à Mídia. Neca quer Marina fazendo o jogo do mercado. Quer uma inflexão à direita.

Se Marina aceitar, o próximo passo é o PSDB ir para junto dela.

E se alguém discordar do que o blogueiro está escrevendo, que cobre da Neca.

Por fim, Fernando Rodrigues cobra Neca a respeito da multa que o Itaú recebeu da Receita Federal, de quase 19 bilhões de reais.

Neca desconversa e não responde.
E Fernando não insiste...


Como diria Marina: ''A situação dessa eleição exige uma releitura da minha história repaginada a nível de um Brasil neoliberal.'' 

Pataxó

Nenhum comentário:

Postar um comentário