Por Fernando Castilho
Esses moços, pobres
moços
Ah! Se soubessem o que eu sei...
Ah! Se soubessem o que eu sei...
Peço licença ao
grande compositor Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), para usar um
trecho de sua música para ilustrar este texto.
Pobres moços esses
que, por não ter vivido os anos FHC e também os anteriores, não
conseguem termo de comparação ao governo atual.
O primeiro mandato
de Fernando Henrique Cardoso teve início em 1º de janeiro de 1995.
Embora se considere
que FHC foi o pai do Plano Real, já está provado que foi Itamar
Franco, de quem ele foi ministro, quem o idealizou.
Nesse período de
primeiro governo, o país começava a viver uma expansão econômica,
depois de sofrer os efeitos de várias crises internacionais nos anos
anteriores. A expansão econômica embrionária, no entanto, trouxe
efeitos colaterais sérios, gerados pela ausência de investimento e
planejamento em produção de energia no Brasil, que não se
organizara para seu crescimento.
Tendo Fernando
Henrique incentivado o fluxo de capitais externos especulativos de
curto prazo no Brasil (hot money) que supostamente inundariam o país
para equilibrar o balanço de dólares, exatamente o oposto do
desejado se deu: a cada crise que surgia em outros países
emergentes, a economia brasileira sofria uma retirada abrupta desses
capitais internacionais especulativos, o que obrigava FHC a pedir
socorro ao FMI, o que fez três vezes.
No seu governo, a
dívida pública do Brasil, que era de US$ 60 bilhões em julho
de 1994, saltou para US$ 245 bilhões em novembro de 2002,
Em maio de 1997
grampos telefônicos publicados pela Folha de S. Paulo revelaram
conversas entre o então deputado Ronivon Santiago e outra voz
identificada no jornal como Senhor X. Nas conversas, Ronivon Santiago
afirma que ele e mais quatro deputados receberam 200 mil reais para
votar a favor da reeleição, pagos pelo então governador do Acre,
Orleir Cameli.
Mesmo após várias
tentativas de CPI, essa e outras denúncias de corrupção nunca
foram levadas adiante, devido a uma operação abafa posta em prática
pelo governo e seus correligionários. Além disso, o Procurador
Geral da República, Geraldo Brindeiro, era o encarregado de
engavetar todas as denúncias.
Após toda uma
década sem investimentos na geração e distribuição de energia
elétrica no Brasil, na passagem de 2000 para 2001, um racionamento
de energia foi elaborado às pressas e atingiu diversas regiões do
Brasil, principalmente a Região Sudeste. O Governo FHC foi
surpreendido pela necessidade urgente de cortar em 20% o consumo de
eletricidade em quase todo o País
Continuado no
governo Fernando Henrique, o processo de privatização ocorreu em
vários setores da economia: a Companhia Vale do Rio Doce, empresa de
minério de ferro e pelotas, a Telebrás, monopólio estatal de
telecomunicações e a Eletropaulo.
O resultado final
das privatizações revelou um aspecto peculiar do programa
brasileiro: algumas aquisições somente foram feitas porque contaram
com a participação financeira dos fundos de pensão das próprias
empresas estatais (como no caso da Vale) ou da participação de
empresas estatais de países europeus
Há ainda que se
lembrar os baixos valores obtidos com as privatizações.
O documento "O
Brasil não esquecerá - 45 escândalos que marcaram o governo FHC",
de julho de 2002, elenca casos como Sudam, Sivam, Proer, caixa-dois
de campanhas, TRT paulista, calote no Fundef, mudanças na CLT,
intervenção na Previ e erros do Banco Central. A intenção da
Revista Consciência.Net em divulgar tal documento não é apagar ou
minimizar os erros do governo que se seguiu, mas urge deixar este
passado obscuro bem registrado.
Leia
o documento.
Por todo o exposto,
considerando que jovens até a idade hoje de 25 anos, no ínicio do
Governo Lula, em 2003, tinham somente 14 anos, o que os impede de ter
uma análise completa do período FHC, para que possam fazer uma
comparação em relação aos Governos Lula e Dilma.
Para eles, que eram
muito jovens, os avanços seriam considerados naturais e até lentos.
A mídia se
encarregaria de lhes fornecer uma leitura bem diferente do que foram
esses anos, nos jornais e revistas (para quem ainda se dá ao
trabalho de ler) e nos telejornais.
Há ainda que se
considerar que a esses jovens foi vendida a ideia da meritocracia,
talvez a mais perversa forma de iludir quem não nasceu em berço de
ouro, ao transformar os 99,9% de desafortunados, em fracassados
fadados a carregar sua cruz até a morte.
Os moços que
graças às políticas de combate à desigualdade social levadas a
cabo nos últimos 10 anos, saíram da linha de pobreza e passam a
integrar a chamada classe C, conseguiram, pagando prestações,
comprar seu carro 0 Km, sua TV 40 polegadas, usam tênis e roupas de
marca, iphone, viajam de avião, etc.
Naturalmente querem
mais. Sentem que podem ascender mais ainda socialmente.
E na ausência da
esquerda, é a direita que os está recrutando como os mais novos
soldados do capitalismo. Isso mesmo, são os chamados hoje em dia de
coxinhas.
A direita
vendeu-lhes a ideia de que hoje em dia falar de direita e esquerda,
luta de classes e divisão entre capital e trabalho é bobagem.
Marilena Chauí tem
razão em chamar a classe média de fascista, violenta e ignorante,
afinal, está a reproduzir o tratamento que recebeu enquanto era
pobre.
Mas como um
assalariado pode defender o capital, flertando com ele? Uma espécie
de síndrome de Estocolmo? Não percebe que, se neoliberalismo
voltar, se o salário mínimo deixar de subir, se o país for
colocado na recessão que a oposição defende, se cessarem as
políticas de transferência de renda, se o microcrédito deixar de
existir, ele corre sério risco de voltar à linha de pobreza?
No 1º de maio
assistimos atônitos o Paulinho da Força fazer campanha para Aécio
Neves, o homem que defende todas essas medidas impopulares, para uma
platéia de milhares de trabalhadores. E o homem foi aplaudido e
Dilma vaiada.
Dá pra entender?
Dá sim. Se a
esquerda não ocupa espaço para informar, a direita aproveita e
ocupa.
Ao invés de a
Secom, Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal pagar a
veiculação de propagandas bonitinhas nos órgãos da mídia, passar
a informar seriamente, e até mesmo a desmentir as mentiras que a
imprensa publica, vai passar a haver um contraponto àquilo que
determinado comentarista fala.
Já que a imprensa
não divulga os desmentidos, que se compre espaços para publicá-los.
E se isso não
bastar, que se impertre liminares que obriguem a imprensa a desmentir
suas falácias, e a se retratar em caso de ofensa à honra.
Como gostaria de
ver Reynaldo Azevedo tendo que publicar um desmentido ou uma
retratação em sua coluna.
Assim como fez
Leonel Brizola com a Globo.
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