Seu perfil ideológico é...

Por Fernando Castilho

A Folha de São Paulo em 5 de maio publicou uma pesquisa online para tentar identificar o perfil ideológico de seus leitores. Clique aqui para participar.

Não é preciso ser assinante para participar. E o fato de ter participado não chancela a pessoa como sendo leitor da Folha, uma vez que algumas pessoas publicaram a enquete nas redes sociais.

Em que pese que há somente 10 questões a serem respondidas, e que não conseguem definir com acuidade se a pessoa é de esquerda ou de direita, simplista demais, acaba sendo interessante pois posiciona definitivamente o jornal no espectro ideológico do país.

Faltaram, é óbvio, questões mais interessantes, como por exemplo, ''você é a favor do combate às desigualdades sociais?'', ou ''você concorda que a meritocracia é a melhor forma de se subir na vida?''. Perguntas como essas definiriam melhor a posição de cada um.

Mas tudo bem. Somente com essas 10 simples questões já dá pra se ter uma boa ideia de quem lê o jornalão.

Após eu mesmo ter participado, vamos aos resultados:

Somente 4% foram classificados como sendo de esquerda.

26% aparecem como sendo de centro-esquerda.

Somando-se os 4% com os 26%, temos 30% de leitores que de alguma forma tem um pensamento de esquerda.

Bem, dentro de um sistema capitalista, pode-se esperar que realmente a maioria da população não seja de esquerda. Alíás, vimos de uma ditadura que, embora não tão recente assim, incutiu na mente das pessoas um certo sentimento de que não é bom ser de esquerda.

Mas, será que 30% não é um número pequeno demais? Para os leitores da Folha, talvez seja até grande demais.

Mas vejamos os clasificados como sendo de direita: 11%. Quase o triplo dos de esquerda.

Os que se definem como sendo de centro-direita somam 38%. Juntando os de direita com os de centro-direita, temos 49%, quase a metade dos entrevistados.

Mas há 21% que se dizem de centro. É aí que mora o perigo. Os de centro não existem. Ninguém é de centro. Nunca ninguém que se diz de centro, portanto, sem ideologia ou sem preferência ideológica, ou ainda, defendendo que essa divisão já não cabe mais no mundo hoje, resistiu à algumas perguntas, como aquelas que formulei mais acima. Fica claro que eles tem lado sim. E o lado é sempre à direita.

Portanto, podemos somá-los aos que se definem como sendo de direita ou de centro-direita, o que totaliza os 70% que não são de esquerda.

Pois bem, 70% dos leitores da Folha são de direita. Isso explica o por quê dos comentários raivosos e cheios de impropérios quando há (pra variar) alguma notícia ruim sobre o Governo Dilma, ou o ataque aos comentários de colunistas como Jânio de Freitas, Ricardo Mello ou André Singer, por exemplo.

E o jornal mantém esse grupo de leitores atrelado a ele, alimentando-o diariamente com tudo que possa significar motivo de ódio à esquerda. 

Essas pessoas (algumas podem ser incautas) estão fazendo política no jornal.

Embora os comentários dos poucos assinantes ( e você só pode comentar se for assinante) de esquerda possam ser (e acho que são mesmo) censurados, nota-se a ausência quase que total deles, o que pode significar que eles não estão fazendo política no jornal. E agora, mais do que nunca, deveriam.

Felizmente o assinante da Folha não representa o universo dos eleitores que vão votar em outubro.

Representa um pouco a elite de um país que não quer a continuidade das mudanças, que não quer que a desigualdade seja combatida, e que não quer que um governo de esquerda seja bem sucedido.