Por Fernando Castilho
''Desculpem, mas
não quero participar do meu linchamento.''
Foi com essa frase
que o ator Alexandre Nero se despediu do Facebook, após explicar em
um texto publicado no UOL, suas razões.
Segundo afirmou,
está cansado do discurso de ódio de algumas pessoas na rede social.
E tem razão.
O ódio vem sendo
disseminado tanto na internet quanto na televisão.
Foi através dessa
prédisposição ao ódio, que um grupo de moradores do bairro
Morrinhos no Guarujá espancou no último dia 3 de maio, até a
morte, Fabiane Maria de Jesus, uma inocente dona de casa, após um
boato circular no Facebook, através da página Guarujá Alerta,
dando conta de que uma mulher sequestrava crianças para praticar rituais de magia negra.
Mesmo que fosse
culpada, não se justificaria tal ato de violência.
Linchamentos no
Brasil sempre houveram, porém de fevereiro para cá, os casos
aumentaram muito, após o incitamento ao justiçamento com as
próprias mãos proferido em rede nacional pela apresentadora do SBT, Rachel
Sheherazade.
O número de
páginas e grupos no Facebook que adotam o discurso de ódio,
principalmente à esquerda, à Presidenta Dilma Rousseff, José Dirceu, José Genoíno e ao PT tem crescido muito ultimamente. Os
membros que os compõem possuem um perfil parecido: geralmente são
relativamente jovens, com formação no máximo até o Ensino Médio,
incapazes de argumentos em debates, e muito, muito violentos. Mesmo
não sendo ricos (a maioria pertence à crescente classe C), defendem
com unhas e dentes a direita, quando não a ultra-direita e até o
nazismo.
Recentemente a
imprensa divulgou preocupação do Ministro Joaquim Barbosa,
presidente do STF, com uma ameaça de morte feita a ele por alguém
que talvez seja partidário do PT, embora todos saibamos que há vários fakes no Facebook se fazendo passar por militantes do Partido dos Trabalhadores, numa das várias manobras que a oposição tem desencadeado na internet.
Mas ninguém na
mídia comenta o grande número de ameaças que a Presidenta Dilma
Rousseff sofre na rede. Há até um policial federal na página
Polícia Federal (falsa) praticando tiro ao alvo numa caricatura de
Dilma.
O publicitário
Enio Mainardi também se aproveitou da onda de ódio contra a
presidenta e publicou num texto que se tivesse um fuzil AR-15 poderia
fazer uso dele. Leia aqui.
E além desses, embora não cheguem a sugerir assassinatos, é óbvio que, de maneira indireta, os colunistas da direita, principalmente Reinaldo Azevedo, Merval Pereira, Eliane Cantanhêde, os desclassificados Arnaldo Jabor, Rodrigo Constantino, Lobão e Diogo Mainardi e também os novos comediantes de stand-up e apresentadores de talk-shows como Danilo Gentilli e Rafinha Bastos, contribuem e muito para criar nas mentes de seus fãs uma massa crítica que vai desembocar no rascismo, na intolerância e no preconceito, forças motrizes da violência e do ódio. São os tais formadores de opinião.
Não se tem uma compreensão ainda deste fenômeno recente, como atesta o texto de André Singer.
Bem, a onda de ódio
está instalada, mas o que se há de fazer?
Muito.
Primeiramente,
quanto à Rachel Sheherazade, as pessoas que se sentiram enojadas, em
rede deveriam exigir que ela se calasse. Temos uma grande
participação nessa onda de ódio e devemos repudiá-la com
veemência. Afinal, como disse o Bispo Desmond Tutu, ''se você é
omisso em situação de opressão, você escolhe o lado do
opressor''.
A Associação
Brasileira de Imprensa deveria repreender a apresentadora por ter ela
desrespeitado o Código de Ética do Jornalismo. Em caso de
reincidência, deverá cassar seu registro profissional.
O Ministério
Público aceitou recentemente denúncia contra Sheherazade
por ter ela desrespeitado a Constituição no que diz respeito ao
incitamento à violência, numa representação feita pela Deputada Jandira Fegalli (PCdoB).
O Ministro Paulo
Bernardo das Comunicações juntamente com seu colega José Eduardo
Cardoso da Justiça e o Procurador Geral da República, Rodrigo
Janot, deveriam repreender o SBT e exigir que discursos como o
proferido por Sheherazade não mais ocorram, sob pena de cassação
da concessão.
O mesmo deve ser
feito em relação aos programas de Marcelo Rezende e José Luís
Datena e suas respectivas redes de televisão.
Quanto às páginas
e grupos de ódio nas redes sociais, caberia ao Ministro das
Comunicações realizar gestões junto aos proprietários ou
representantes legais de Facebook e Twitter para que as páginas e
grupos que incitam a violência sejam fechados, assim como tem sido
canceladas páginas de esquerda sem nenhum motivo.
Mas quem teria a
obrigação mesmo de se posicionar contra esse discurso de ódio em
rede nacional que está a crescer cada vez mais é Joaquim Barbosa.
Como presidente do STF, órgão máximo da justiça do país, é a
ele que caberia exigir que cessassem os justiçamentos, pois só cabe
à Justiça a responsabilidade em julgar e condenar.
Mas, depois de
tantas demonstrações de arbitrariedades cometidas ao arrepio da
Justiça, que moral resta a Barbosa para isso?
Arrisco-me a
conjeturar se ele mesmo não seria o responsável em última
instância pela desconfiança na Justiça, que causa nas pessoas o
sentimento de que, se ela não funciona, ou se funciona de maneira
arbitrária, por que não a fazermos nós com as próprias mãos?
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